quinta-feira, setembro 23, 2004

Shiva

Onde me viste tão bondosa, tão jocosa, deliciosa?
Sabia que não seria por mim, mas, de todo meu amor, te fiz honrado
Procurarias, enfim, a senhora, a fogosa, amorosa
Triste, levanta e sai assim, como se eu te houvesse transtornado

Ligaste o chuveiro, atrapalhado, molhaste a casa toda
A água gelada refresca bem a cabeça que recém havias perdido
Desligaste ligeiro. Vieste dizer-me algo sem roupa?
Bocas se perdem na vontade de sacrificar o que estava já ferido

Tuas palavras saem em paz, meus ouvidos crêem
Só eu que te compreendo. É, amor
A porta bate e eu corro atrás, meu odioso bem
Grito e, se não te bato, é favor

Teus maldizeres ferem, teus filhos ouvem
E eu me debruço – dor
chorosa em pleno inferno, nossa vida vem
e me faz assim, flor.

(Solano Lucena)