Vinte e seis de Outubro
Tudo era muito cinzento, não se parecia em nada com o que nos haviam descrito. Postes jogados, placas que não faziam sentido e cogumelos gigantes habitados por seres pequenos, todos eles iguais, não se conheciam e se riam da nossa busca.
– Nós viemos buscar o dardejante fenômeno de luz para que esse nos esclarecesse outra incrível manifestação divina, essa chamada "Vida". Enfim, viemos encontrar o arco-íris.
Estávamos em dois, eu e meu único amigo. Queríamos chegar ao improvável, com suas cores redesenharmo-nos, e, com o pote de ouro, comprar valiosos presentes para nossas esposas.
O vento contra nós era cada vez mais forte. E o frio fez com que ele não agüentasse: não sobreviveria nem mais um metro.
Olho para frente e vejo minha ambição de chegar ao franco arco-íris: – Vem ser feliz. Vem ter o que teus valores priorizam – olho para um lado, nada vejo. Olho para o outro, nada. Para trás, somente minhas pegadas e o corpo d’um bom amigo morto, que, além de ter sido leal até hoje, ainda me salvaria da fome. Continuei o trajeto, sabia que estava próximo.
E assim foi durante dezenove anos. Agüentando as risadas desses pequenos seres que habitavam cogumelos decadentes. Suportando o frio que ardia em tal solitude. Horas parando, refletindo, pensando se seria mesmo feliz, se era isso mesmo que queria. Até que, finalmente, encontrei algo.
Não o arco-íris, mas uma placa que me fazia sentido. Cresce e aparece, dizia ela. Depois de me dispor a entendê-la, descobri que todas as placas ali eram idênticas, mas, para mim, só aquela tinha valor.
Comecei, então, a planejar melhor meus passos, caminhar devagar, pisar com mais cuidado e certeza. E a cada vilarejo de cogumelos fazer novos amigos. Eles continuam rindo de mim, mas agora rimos todos juntos. Eu desafio o criador da idéia com a minha risada alta. Aliás, são duas coisas que faço muito bem.
(Solano Lucena)
– Nós viemos buscar o dardejante fenômeno de luz para que esse nos esclarecesse outra incrível manifestação divina, essa chamada "Vida". Enfim, viemos encontrar o arco-íris.
Estávamos em dois, eu e meu único amigo. Queríamos chegar ao improvável, com suas cores redesenharmo-nos, e, com o pote de ouro, comprar valiosos presentes para nossas esposas.
O vento contra nós era cada vez mais forte. E o frio fez com que ele não agüentasse: não sobreviveria nem mais um metro.
Olho para frente e vejo minha ambição de chegar ao franco arco-íris: – Vem ser feliz. Vem ter o que teus valores priorizam – olho para um lado, nada vejo. Olho para o outro, nada. Para trás, somente minhas pegadas e o corpo d’um bom amigo morto, que, além de ter sido leal até hoje, ainda me salvaria da fome. Continuei o trajeto, sabia que estava próximo.
E assim foi durante dezenove anos. Agüentando as risadas desses pequenos seres que habitavam cogumelos decadentes. Suportando o frio que ardia em tal solitude. Horas parando, refletindo, pensando se seria mesmo feliz, se era isso mesmo que queria. Até que, finalmente, encontrei algo.
Não o arco-íris, mas uma placa que me fazia sentido. Cresce e aparece, dizia ela. Depois de me dispor a entendê-la, descobri que todas as placas ali eram idênticas, mas, para mim, só aquela tinha valor.
Comecei, então, a planejar melhor meus passos, caminhar devagar, pisar com mais cuidado e certeza. E a cada vilarejo de cogumelos fazer novos amigos. Eles continuam rindo de mim, mas agora rimos todos juntos. Eu desafio o criador da idéia com a minha risada alta. Aliás, são duas coisas que faço muito bem.
(Solano Lucena)
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