segunda-feira, outubro 11, 2004

A Quadrilha da Drummond

(baseado na poesia “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade)

Não, nunca amei ninguém. Pode parecer triste. Pode parecer deprimente. Pode ser até que eu seja, mesmo, fria. Agora, dizer o que me disseram, que nunca procurei um amor, jamais.

Lembro de 1983. Que ano. Éramos conhecidos como a quadrilha da Drummond. Não, somente, graças à praça em que passávamos nossas tardes, mas, também, às inúmeras serenatas que os guris faziam para nós. Joaquim escrevia muitas letras pensando em mim, Raimundo tocava muito bem violão e João... Bom, o João não tinha nada de especial.

Joaquim era poeta. Tudo em que ele colocava a mão ganhava vida. Lembro-me das flores que roubava do jardim da mãe de Teresa, fazia um arranjo com elas (sozinho), escrevia um poema de súplicas, e, com a mesma cara-de-pau de sempre, entregava para alguém na minha casa. As flores, eu nunca recebi, mas a lixeira adorava. Saudades.

Eu era muito novinha. Não pensava em namorar sério, e pensava demais no que os outros achariam. Minha vida se resumia na reputação que teria dentro e fora de casa. Minha vida se resumia em estudar e conhecer pessoas interessantes. Interessantemente interessantes.

Hoje, Joaquim morreu por achar exatamente o que os outros achavam sobre sua pessoa, um tristonho sufocado por suas esquisitices. Joaquim se suicidou há três anos. E, hoje, eu estou casada também. Casei-me com o primeiro homem que apareceu na minha frente. Na frente da minha janela com um jardim botânico inteiro de presente.

Na verdade, eu nunca fui feliz.

(Solano Lucena)