terça-feira, maio 17, 2005

Cambalhotas

Movimento conhecido de rotação do corpo sobre a cabeça, não se sabe bem ao certo a origem do ato de cambalhotar. Há quem diga que esse foi uma invenção circense ocidental. Outros acreditam n'uma variação do Rak'ah, ritual islã. O fato é que a cambalhota vem superando gerações e ainda nos é um movimento coreograficamente atual. Na vida, ao menos.

Vida, dona cheia de surpresas, de altos e baixos. Não somos os mesmos durante um mesmo dia. Nem podemos. Primeiro, somos humilhados, depois somos amados, depois somos alimentados, depois somos respeitados e, por último, acostumados. Aí, encostamos a cabeça no travesseiro e deixamos os pés o mais longe possível dela. Na cabeça, uma preocupação, um dia inteiro haverá de ser vivido ainda depois de depois de amanhã.

Parece que quanto mais responsáveis ficamos, mais cambalhotamos. Nesse sentido. O figurado. Porque o literal ficou para trás, junto da bandeja de bolinhos de chuva e da doce possibilidade de ser, um dia, quem sabe, astronauta.

Será que amadurecemos, ou nos tornamos intolerantes? Como podemos esquecer como se dava aquela cambota na grama? Bom, era assim: disposição no corpo, um pouquinho de coragem, a cabeça na terra, impulso nas pernas, o mundo girando na vertical e, os pés, os pés bem cravados no céu.

(Solano Lucena)