Caso Blanco
Dia frio. Chuva fina. Céu nublado. Na porta do casarão da tradicional família Blanco, batia um homem de feições sérias e roupas grossas. Sou investigador, disse ele ao mordomo adentrando a casa, faça-me o favor de chamar sua patroa. E guarde meu guarda-chuva, sim?
Seus passos faziam ruídos no chão de madeira. Caminhou como se já conhecesse aquele lugar. Olhou ele fotografias de elegantes homens sobre o pechiché do hall de entrada. Em cada uma dessas fotografias havia uma descrição atrás, Peter Reid, desembargador, 26 de março. Quando descia as escadas uma bela mulher de meia-idade. Loira, sensual e amarrando o robe, ela atraía o olhar do estranho.
- Quem és? E o que queres aqui? – perguntou ela em tom soberano.
- Sou detetive da polícia e quero lhe fazer algumas perguntas, Senhorita Rosemarie – respondeu ele tirando o casaco e o colocando sobre a cadeira.
- Senhora. Sobre? – desceu o último degrau da escada.
- Arthur Blanco – sentava-se n’uma cadeira da sala de estar.
- Meu marido?
- Ex-marido, ele está morto.
Ela parecia lamentar e sentava-se à frente do investigador.
- Já disse tudo que tinha para dizer sobre esse caso – disse séria em voz apreensiva.
- Não, você não disse tudo. Se o tivesse feito, já teria sido desvendado – respondeu acendendo um fedorento cigarro na chama da vela presa ao castiçal.
- Não deverias fumar enquanto estiveres dentro de minha casa, rapaz! – reclamou arrancando o cigarro de palha de suas mãos e o apagando na escarradeira, um cinzeiro improvisado.
- E você não deveria levantar a voz p’ra mim – calmo, entrelaçava os dedos.
- O que vais fazer, me prender? Não podes prender-me por levantar a voz em minha casa – em tom irônico.
- Acredite, eu posso.
Fez-se um silêncio constrangedor na grande e escura sala de estar. As cortinas estavam fechadas, mas as janelas, semi-abertas para um dia descolorido. De uma delas, surgia um gato acinzentado de pêlo aparentemente macio que caminhava até o colo da bela mulher de olhar triste.
- Quando foi encontrado o corpo de seu falecido marido, havia marcas de batom em sua camisa e duas ligações não-atendidas de uma mulher chamada Scarlet em seu celular. Mas, infelizmente, não foi possível contatá-la. A senhorita sabia da existência de alguma outra mulher?
- Não sabia. Mas não duvido. Meu falecido marido era muito de bailar – respondeu acariciando o gato.
Nessa hora, entrou na sala um homem gordo e bigodudo. Vestia um terno branco com um cravo preso à lapela e segurava na mão um copo de líquido incolor.
- Quem é você? – o detetive perguntou ao homem de bigode.
- Michel. – Rosemarie ao agente da polícia.
- Quem é ele? – Michel à Rosemarie.
- Quem é Michel? – o investigador perguntou à senhorita.
- Meu marido – a senhora respondeu ao investigador.
- Marido?
Foram desferidos golpes de chave inglesa sobre o crânio do visitante que rachava, fêmur fraturado que dilacerava a carne, sangue, sangue, muito sangue.
- Charles!
- Madame?
- Limpe essa sujeira, sim? Vou recolher-me para meus aposentos.
- Sim, madame.
Michel era belga, jogador assíduo do Cassino de Monte Carlo, casado pela terceira vez, leitor de Baudelaire e condizente à filosofia do anti-herói.
(Solano Lucena)
Seus passos faziam ruídos no chão de madeira. Caminhou como se já conhecesse aquele lugar. Olhou ele fotografias de elegantes homens sobre o pechiché do hall de entrada. Em cada uma dessas fotografias havia uma descrição atrás, Peter Reid, desembargador, 26 de março. Quando descia as escadas uma bela mulher de meia-idade. Loira, sensual e amarrando o robe, ela atraía o olhar do estranho.
- Quem és? E o que queres aqui? – perguntou ela em tom soberano.
- Sou detetive da polícia e quero lhe fazer algumas perguntas, Senhorita Rosemarie – respondeu ele tirando o casaco e o colocando sobre a cadeira.
- Senhora. Sobre? – desceu o último degrau da escada.
- Arthur Blanco – sentava-se n’uma cadeira da sala de estar.
- Meu marido?
- Ex-marido, ele está morto.
Ela parecia lamentar e sentava-se à frente do investigador.
- Já disse tudo que tinha para dizer sobre esse caso – disse séria em voz apreensiva.
- Não, você não disse tudo. Se o tivesse feito, já teria sido desvendado – respondeu acendendo um fedorento cigarro na chama da vela presa ao castiçal.
- Não deverias fumar enquanto estiveres dentro de minha casa, rapaz! – reclamou arrancando o cigarro de palha de suas mãos e o apagando na escarradeira, um cinzeiro improvisado.
- E você não deveria levantar a voz p’ra mim – calmo, entrelaçava os dedos.
- O que vais fazer, me prender? Não podes prender-me por levantar a voz em minha casa – em tom irônico.
- Acredite, eu posso.
Fez-se um silêncio constrangedor na grande e escura sala de estar. As cortinas estavam fechadas, mas as janelas, semi-abertas para um dia descolorido. De uma delas, surgia um gato acinzentado de pêlo aparentemente macio que caminhava até o colo da bela mulher de olhar triste.
- Quando foi encontrado o corpo de seu falecido marido, havia marcas de batom em sua camisa e duas ligações não-atendidas de uma mulher chamada Scarlet em seu celular. Mas, infelizmente, não foi possível contatá-la. A senhorita sabia da existência de alguma outra mulher?
- Não sabia. Mas não duvido. Meu falecido marido era muito de bailar – respondeu acariciando o gato.
Nessa hora, entrou na sala um homem gordo e bigodudo. Vestia um terno branco com um cravo preso à lapela e segurava na mão um copo de líquido incolor.
- Quem é você? – o detetive perguntou ao homem de bigode.
- Michel. – Rosemarie ao agente da polícia.
- Quem é ele? – Michel à Rosemarie.
- Quem é Michel? – o investigador perguntou à senhorita.
- Meu marido – a senhora respondeu ao investigador.
- Marido?
Foram desferidos golpes de chave inglesa sobre o crânio do visitante que rachava, fêmur fraturado que dilacerava a carne, sangue, sangue, muito sangue.
- Charles!
- Madame?
- Limpe essa sujeira, sim? Vou recolher-me para meus aposentos.
- Sim, madame.
Michel era belga, jogador assíduo do Cassino de Monte Carlo, casado pela terceira vez, leitor de Baudelaire e condizente à filosofia do anti-herói.
(Solano Lucena)
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