Morrer com dignidade
Quem assistiu aos premiadíssimos "Mar Adentro" (de Alejandro Aménabar) ou "Menina de Ouro" (do Clint Eastwood) pôde se ver em uma situação delicada: sem saber a quem dar razão, já que poucos de nós temos uma opinião formada sobre; os filmes tratam de eutanásia, um assunto delicado, atual, dono de muitas polêmicas e que volta à tona graças a estas duas excelentes obras da indústria cinematográfica mundial.
Bom, antes de qualquer coisa, também defendo a eutanásia como um direito legal, ainda que a considere imoral, uma violência ao nosso objetivo natural de sobreviver...
Eutanásia é uma prática fatal que visa poupar a dor de quem está a sofrer. Se, por um lado, falo da liberdade humana, poder escolher entre viver assumindo necessidades ou não, por outro, entendo o egoísmo ético das famílias e até concordo com elas ao me colocar na mesma situação. Acredito no sucesso da legalização da eutanásia passiva, sim, seguindo o exemplo do que acontece no Uruguai, na Alemanha, na França, na Holanda e na Bélgica - onde tudo pode ser feito com a decisão do paciente e com a supervisão médica -, acredito também que o que nos torna seres humanos é o fato de sermos dotados de razão e, conseqüentemente, responsáveis por nossos defeitos e virtudes. Mas confesso que, diante de tal situação, me identifico muito mais com o oprimido olhar esperançoso que com essa nova visão libertária. Ainda que morrer seja só uma parte de qualquer vida, optar por ela me parece desacreditar em toda vitória até então. Quando o enfermo olha para quem o cuida e diz que seu maior desejo é o não-viver, ele nega todo o sacrifício deste e traz ao ambiente (casa, hospital, sala de cinema, nossa mente) a morte como uma melancólica solução para a vida mal-vivida. Eu realmente encaro a “morte digna” como um suicídio, uma realidade humana, claro, mas também o vitimado de uma ação social, dona de preconceito e pena. E não falemos em Deus...
Mas, voltando ao assunto filmes, é admirável ver a grandeza de personagens compactuando com a morte calma como uma saída para a dor de seu ente, politizadamente ou não. A ousadia (ousadia?) de um diretor que dá um beijo de boa noite na testa de sua obra. Isso só reafirma que finais felizes não estão nas películas, e sim, mais além das retinas de quem vê. Visões essas otimistas ou pessimistas das respostas do mesmo problema.
(Solano Lucena)
Bom, antes de qualquer coisa, também defendo a eutanásia como um direito legal, ainda que a considere imoral, uma violência ao nosso objetivo natural de sobreviver...
Eutanásia é uma prática fatal que visa poupar a dor de quem está a sofrer. Se, por um lado, falo da liberdade humana, poder escolher entre viver assumindo necessidades ou não, por outro, entendo o egoísmo ético das famílias e até concordo com elas ao me colocar na mesma situação. Acredito no sucesso da legalização da eutanásia passiva, sim, seguindo o exemplo do que acontece no Uruguai, na Alemanha, na França, na Holanda e na Bélgica - onde tudo pode ser feito com a decisão do paciente e com a supervisão médica -, acredito também que o que nos torna seres humanos é o fato de sermos dotados de razão e, conseqüentemente, responsáveis por nossos defeitos e virtudes. Mas confesso que, diante de tal situação, me identifico muito mais com o oprimido olhar esperançoso que com essa nova visão libertária. Ainda que morrer seja só uma parte de qualquer vida, optar por ela me parece desacreditar em toda vitória até então. Quando o enfermo olha para quem o cuida e diz que seu maior desejo é o não-viver, ele nega todo o sacrifício deste e traz ao ambiente (casa, hospital, sala de cinema, nossa mente) a morte como uma melancólica solução para a vida mal-vivida. Eu realmente encaro a “morte digna” como um suicídio, uma realidade humana, claro, mas também o vitimado de uma ação social, dona de preconceito e pena. E não falemos em Deus...
Mas, voltando ao assunto filmes, é admirável ver a grandeza de personagens compactuando com a morte calma como uma saída para a dor de seu ente, politizadamente ou não. A ousadia (ousadia?) de um diretor que dá um beijo de boa noite na testa de sua obra. Isso só reafirma que finais felizes não estão nas películas, e sim, mais além das retinas de quem vê. Visões essas otimistas ou pessimistas das respostas do mesmo problema.
(Solano Lucena)
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