quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Produtividade em Pesquisa

A telenovela é um produto. Um produto artístico que é vendido em um meio midiático. Baseada nos moldes da radionovela, a televisão dos anos 50 obteve um sucesso inimaginável ao ver a repercussão que caberia à telenovela no Brasil. Tal repercussão levava empresários a investirem mais no meio e, assim, o tornando o veículo de integração nacional que hoje é. A telenovela é um produto que vende e convence.

A telenovela é um produto que vende graças ao seu forte merchandising. Merchandising é uma ação publicitária que visa a credibilidade de uma marca para um público através de um meio específico. De uma forma, normalmente, discreta, esse tem sido uma tendência ainda a ser explorada, se comparada a programações e novidades norte-americanas.

No Brasil, o merchandising começou em uma telenovela, "Beto Rockfeller", em 1969 na extinta TV Tupi. A novela tratava de um vendedor de sapatos que soube se incluir no meio da alta sociedade paulista. Beto Rockfeller, o personagem, acordava sendo vítima de uma ressaca e se auto-remediava com um produto da Bayer.

A propaganda em produções televisivas ainda engatinhava quando a Rede Globo investiu na área. Até então, só se via merchandising em peças cinematográficas, americanos o utilizavam para garantir os custos de suas produções e seus filmes acabavam por chamar a atenção para esse meio.

Dancing Days hoje é nome de discotecas. Simplesmente, foi uma telenovela que fez história na televisão brasileira, não apenas pelo seu conteúdo dramático, mas também por ser o primeiro registro de um grande case publicitário. Antes dela, as trilhas sonoras das mesmas eram praticamente um produto à parte. Em “Dancing Days”, a Som Livre e a Rede Globo se dispuseram a garantir uma trilha de sucesso. No dia da estréia da novela, o LP já era vendido. Músicas dançantes, As Frenéticas, que estavam em alta na carreira, faziam a abertura do programa, o glamour da noite. Tudo meticulosamente estudado para que o programa alcançasse o auge comercial. Em “Dancing Days”, Sônia Braga vendia calças jeans Staroup na televisão e o Brasil conhecia sandálias Melissa Aranha, uma versão tupiniquim do modelo europeu, isso tudo em 1979.

Um ano depois, Betty Faria apresentava na TV a marca USTop em "Água viva". Assim, os anos 80 foram fundamentais para a consolidação do merchandising na telenovela brasileira. A partir daí, os produtos não eram somente abordados nos intervalos, a ligação entre a obra de arte e seu instinto comercial era cada vez mais perceptível.

Está atualmente no ar uma novela da Rede Globo chamada "Belíssima". Belíssima é uma marca de lingeries bem conceituada em toda América Latina. Antes de sua veiculação, a Globo expunha a empresários sua proposta, “Belíssima é uma marca que alude à perfeição e à estética, à sofisticação e à beleza. O carro-chefe da Belíssima é a lingerie, mas o grande glamour e força desta marca podem ser emprestados a muitos outros produtos”. Assim dizia o site da emissora antes do programa ir ao ar. “Belíssima” seria o produto midiático de sucesso e seu merchandising, o mais forte das telenovelas brasileiras dos últimos anos.

O poder de uma novela popular é incalculável. Tendências, atitudes, personalidade e produtos de consumo, tudo está diante dos olhos de todas as classes sociais. A telenovela une um país de opiniões e realidades tão diversas. A maior publicidade não é aquela que simplesmente vende, mas, sim, a que conquista. E eis um meio que parece ter crédito o suficiente para isso.

(Solano Lucena)