sexta-feira, julho 28, 2006

Retrato

A sua foto é assim: você está deitada na cama, vestida, olhando para a câmera. Bem vestida, inclusive. Tão vestida que teu olhar sensual me causa fantasias. As poucas roupas poderiam me deixar sem o que imaginar. Embora eu duvide.

A foto não tem cor nenhuma, as cores são subjetivas. Tu sabe que eu a coloro sem nem perceber que faço, né? Pois é, eu sou assim.

A textura da fotografia é bem interessante. Ela está na cama, ela está na pele, ela está nos teus lábios, ela poderia me absorver para dentro dela, de tão vazia. Texturas são um perigo, ainda mais quando nossa intenção é ser feito de algodão em quadradinhos de papel.

Os contrastes não são tão interessantes. De um lado, eu caminhando por uma rua sem saída com uma fotografia sem cor na mão. Do outro, você deitada onde eu realmente não importaria de agora estar. O contraste perfeito é um fado, um violeiro que ganha com uma canção a princesa lisboeta em um conto de fadas. Contrastes em um livro de gravuras.

A idéia da foto também não é boa. É você. Olhando para mim. Do mesmo jeito que olha em todas as fotografias para todas as pessoas. Você tem um silêncio ao seu favor e esse silêncio é quase uma ordem.

Por mais incrível que pareça, o melhor dessa tua foto aqui sou eu.

Se tu soubesse como eu te deixo tão bonita em retratos...

(Solano Lucena)