O Sobrevivente
Mãos à cabeça, muita dor. De manhã, uma cotidiana enxaqueca. E a cura, sabia, estava num fundo falso de gaveta. Uma arma de fogo, um relógio e um recibo. Arma de fogo, era isso. Somente um tiro na testa e, pronto, estaria vivo.
Ouvia passos na escada. E, ao ver, havia roupas pelo chão. Calcinhas, gravatas e broches, um deles era uma lembrança de seu décimo aniversário. Havia um paletó marrom-sujeira, também, sedento por sabão. E muitas crianças brincavam de voar sem asas ali, da ponta da luminária até o deslize do corrimão.
Na mesa, um cogumelo dourado boiava no preto morfético do café, que não beirava uma xícara e havia raiz e terra na colher. Na mesa, sua filha lhe vendia apólices de seguro. Não pense apenas nos seus filhos, também pense em seu futuro.
Um grito vinha do armário da louça. Da louça, nada se escutava. O que gritava era a carta debaixo do saleiro. Uma carta consolo. Uma carta consolo que dizia aberta, sem nenhuma novidade: busque, enquanto vivo, homem, a tua felicidade.
(Solano Lucena)
Ouvia passos na escada. E, ao ver, havia roupas pelo chão. Calcinhas, gravatas e broches, um deles era uma lembrança de seu décimo aniversário. Havia um paletó marrom-sujeira, também, sedento por sabão. E muitas crianças brincavam de voar sem asas ali, da ponta da luminária até o deslize do corrimão.
Na mesa, um cogumelo dourado boiava no preto morfético do café, que não beirava uma xícara e havia raiz e terra na colher. Na mesa, sua filha lhe vendia apólices de seguro. Não pense apenas nos seus filhos, também pense em seu futuro.
Um grito vinha do armário da louça. Da louça, nada se escutava. O que gritava era a carta debaixo do saleiro. Uma carta consolo. Uma carta consolo que dizia aberta, sem nenhuma novidade: busque, enquanto vivo, homem, a tua felicidade.
(Solano Lucena)
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