domingo, outubro 15, 2006

A Marilene

Pai, a Marilene vai embora. Puta-que-pariu!

Marilene era a empregada que o pai contratara para inaugurar o filho. Dezesseis anos, só queria saber de Internet. Dezesseis anos e não havia se interessado ainda por meninas. Nem por meninos. Nem por revistas, canais ou putaria na web, nada. O guri era um caso grave.

Marilene foi escolhida a dedo pelo pai. Não bastava ser uma boa empregada, precisava ser uma mulher que desse ao filho já uma boa auto-estima para a vida. E isso não seria qualquer uma.

Então, é casada? Sou, sim, senhor. Ok, obrigado.

Então, é casada? Co o Jerônimo e temo cinco filio. Ok, obrigado.

Então, é casada? Não, graças ao meu senhor, Jesus Cristo! É religiosa? Religiosa não, espiritualista! Ok... Obrigado.

Então, é casada? Não, nem tenho namorado... Não? Não. Marilene, 20 anos e bonita. Vinha de uma cidade do interior chamada Cabritinho. Sou de Cabritinho, perto de Curió, sabe? E tinha um sotaque muito peculiar.

O plano é o seguinte, faça meu filho um homem e eu te pago p'ra não trabalhar. Feito. O guri tinha cara de besta mesmo, não seria difícil.

Na primeira semana, nada. No primeiro mês, tampouco. Estava difícil... Eram oito meses se fresqueando p'ro guri e nenhum resultado. Nem quando saía do banho só de toalha, ele a olhava. O que tem de errado aí, hein?

Ela já estava até desistindo. Enfim, ele deve gostar de outras coisas, acontece. Ela já passava o aspirador de pó pensando em Cabritinho. Havia deixado coisas inacabadas em sua cidade. Talvez fosse melhor voltar. Até que o guri desgruda do computador e diz:

- Faz de novo.

- O quê?

- O que tu fez p'ra passar o aspirador no canto de lá.

Ela dava um sorriso. Feliz, se agachava para chegar ao canto de lá, como havia feito anteriormente, sua micro-saia mostrava 3/4 de bunda e o menino do computador via tudo aquilo satisfeito.

- Pronto. (ria boba) Deseja mais alguma coisa? - perguntava oferecendo-se.

- Não, tá bom, pode ir.

Saiu ela furiosa.


(Solano Lucena)