domingo, dezembro 30, 2007

Um homem só: Antônio, eu

Tira a cartola, segura na mão a máscara e dialoga com ela.

- Sabe, Antônio? Tu nunca foste bom o bastante para mim. Quando meu corpo estava no auge, só quiseste saber de tuas aventuras, me deixava em casa padecendo de amor. Sempre foste péssimo para mim. É disso que eu estava falando outro dia e não me ouviste. Tu fizeste meu mundo, Antônio, e eu o quero de volta.

Baixa a cabeça.

- Eu tenho medo, Antônio. Tenho medo dos teus defeitos que não suporto mais descobrir. Eu choro, Antônio. Eu choro toda noite como uma boba, uma boba que um dia faz o homem e noutro o vê escapar como areia dos dedos. Que quem te tenha te engula logo.

Põe no chão a máscara.

- Eu quero ser amada, Antônio. É muita humilhação para uma mulher bela como eu ser tua. Eu quero ser do mundo, Antônio. Do mundo. Onde tu sejas só um nome comum e eu possa ser rainha de um qualquer. Imperatriz das esquinas. Amante dos empregados... Eu cansei, homem.

Pisa na máscara que se desfaz.

- E eu moro no teu coração agora, Antônio. Junto de tudo aquilo que você não deveria perder.

(Solano Lucena)