Cena 10
Interna, quarto, noite.
Homem senta-se na cama. Vê perto do espelho a foto deles na festa de casamento. Câmera foca na imagem e apresenta mais duas imagens da mesma festa. Câmera foca a aliança na mão do homem, que ainda segurava o cigarro.
Câmera mostra uma aliança no fundo de uma privada.
Homem olha para o travesseiro. Câmera acompanha esse olhar, sai do rosto do homem até o travesseiro e volta para o rosto.
Homem desconcentra o olhar no travesseiro e se vê no espelho. Foca-se no espelho. Arregala os olhos com as mãos (movimento que oculistas fazem para examinar o paciente, o resultado na face de alguém é semelhante à máscara do Pânico). Repara que, atrás dele, o espelho mostrava roupas da mulher jogadas na cadeira.
Homem contorna o corpo da mulher em mãos vazias. Tudo devagar e, de novo, sentado na cama.
Câmera foca para o chão. Há uma sandália. O foco é a sandália.
Acontece um flash de uma mulher calçando a sandália sobre aquela mesma cama. Calça devagar, para o deleite do texto.
O homem pega uma sandália. Olha a sandália sob várias perspectivas, como se o centro do mundo naquele momento fosse aquela sandália. Alisa a sandália. Bate no solado. Sente o cheiro. Cheira à saudade.
Olha para seus pés. Sapatos. Grosseiros sapatos, pretos, bem engraxados, com cadarços, estilo social. Desata os nós dos cadarços. Tira com as duas mãos cada um. Elegantes meias negras em cada pé. Tira as meias. Olha para a sandália e segura as duas com uma mão só. Calça as sandálias. Câmera foca em um homem com sandálias e calças. Sua mão puxa as calças para aparecer somente as sandálias, os pés e as pernas cabeludas.
Homem caminha estranho com as sandálias. Vai até o espelho se ver.
Joga no chão as roupas que estavam em cima da cadeira. Procurava alguma roupa.
- No armário...
Abre o armário e encontra vestidos diversos. Pega vestido por vestido e os joga no chão, ele ainda procurava algo.
Até que o homem acha. Era o vestido que ela usava na fotografia da primeira cena. Joga na cama o vestido. Veste-o. O homem se olha no espelho e não demonstra expressão alguma.
Câmera mostra uma busca por armários diversos, mas sempre com um senso destrutivo, abrir uma gaveta, tirar o que tem dentro e jogar no chão ou longe. Até que o homem encontra os vidros de maquiagem no pechiché. Há uma estranha alegria em ver aquilo.
Olhando para a câmera, homem coloca o batom. Quando acaba, dá um sorriso.
(Solano Lucena)
Homem senta-se na cama. Vê perto do espelho a foto deles na festa de casamento. Câmera foca na imagem e apresenta mais duas imagens da mesma festa. Câmera foca a aliança na mão do homem, que ainda segurava o cigarro.
Câmera mostra uma aliança no fundo de uma privada.
Homem olha para o travesseiro. Câmera acompanha esse olhar, sai do rosto do homem até o travesseiro e volta para o rosto.
Homem desconcentra o olhar no travesseiro e se vê no espelho. Foca-se no espelho. Arregala os olhos com as mãos (movimento que oculistas fazem para examinar o paciente, o resultado na face de alguém é semelhante à máscara do Pânico). Repara que, atrás dele, o espelho mostrava roupas da mulher jogadas na cadeira.
Homem contorna o corpo da mulher em mãos vazias. Tudo devagar e, de novo, sentado na cama.
Câmera foca para o chão. Há uma sandália. O foco é a sandália.
Acontece um flash de uma mulher calçando a sandália sobre aquela mesma cama. Calça devagar, para o deleite do texto.
O homem pega uma sandália. Olha a sandália sob várias perspectivas, como se o centro do mundo naquele momento fosse aquela sandália. Alisa a sandália. Bate no solado. Sente o cheiro. Cheira à saudade.
Olha para seus pés. Sapatos. Grosseiros sapatos, pretos, bem engraxados, com cadarços, estilo social. Desata os nós dos cadarços. Tira com as duas mãos cada um. Elegantes meias negras em cada pé. Tira as meias. Olha para a sandália e segura as duas com uma mão só. Calça as sandálias. Câmera foca em um homem com sandálias e calças. Sua mão puxa as calças para aparecer somente as sandálias, os pés e as pernas cabeludas.
Homem caminha estranho com as sandálias. Vai até o espelho se ver.
Joga no chão as roupas que estavam em cima da cadeira. Procurava alguma roupa.
- No armário...
Abre o armário e encontra vestidos diversos. Pega vestido por vestido e os joga no chão, ele ainda procurava algo.
Até que o homem acha. Era o vestido que ela usava na fotografia da primeira cena. Joga na cama o vestido. Veste-o. O homem se olha no espelho e não demonstra expressão alguma.
Câmera mostra uma busca por armários diversos, mas sempre com um senso destrutivo, abrir uma gaveta, tirar o que tem dentro e jogar no chão ou longe. Até que o homem encontra os vidros de maquiagem no pechiché. Há uma estranha alegria em ver aquilo.
Olhando para a câmera, homem coloca o batom. Quando acaba, dá um sorriso.
(Solano Lucena)
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