domingo, dezembro 30, 2007

Um homem só: o xavequeiro

Veste a máscara.

- Poderíamos sair para dançar e beber alguma coisa, que tal?

Tira a máscara.

- Estou lhe dizendo que quero vê-la e que sou um cara legal, sabe? “Beber”, “que tal?”, um cara legal na medida ideal.

Veste a máscara.

- Ah... Tudo bem, podemos deixar para outro dia, então, um dia que tu puderes.

Tira a máscara.

- Estou lhe dizendo que ainda quero vê-la, que sou o mesmo cara legal, um cara legal na medida ideal, e que posso ser compreensivo também. Estou me fantasiando de "o cara legal certinho". O que talvez essa pessoa não queira e decretará isso na fala seguinte.

Veste a máscara.

- Mas não vá depois se arrepender, hein? Hehehe.

Tira a máscara.

- Estou dizendo que poderia chorar a noite inteira pela atenção recusada. Poderia, se não houvesse um homem maiúsculo aqui... Ahm, eu.

Homem veste a cartola.

Essa é a história de um homem só.

(Solano Lucena)