quinta-feira, maio 19, 2005

Rastros de Mim

Tardes anoitecem. Flores murcham. Saudades brotam. Terra molhada. Palavras calam. Corações apertam. Olhos inundam. Bocas secam. Bancos vazios. Envelopes chamam. Cartas retratam. Retratos relembram. Pequenos relicários. Presentes, às vezes, frustram.

Carros passam, pessoas passam, nuvens passam. Namorados passam com namoradas. Passam. Passo a passo. Vontades passam. Sorrisos passam. Olhares passam... Minorias ficam.

Cães guiam. Cachorros ladram. Latidos. Amores desamam. Palavras calam. Desamores somem. Silêncio. Defeitos gritam. Feridas gritam. Fraquezas gemem. Porta aberta. Casas caem. Filhos debandam. Famílias abandonam. E a grama pisada. Amigos matam. Amigos morrem. E mortos clamam: nós somos passado!

Noites, amanheçam.

Só o que sobra disso tudo são rastros de mim. Mas, digam-me, até quando?

(Solano Lucena)