Quando a Terra ainda não era redonda
As Cores
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Manuela tinha lindos cachos dourados e um cativante sorriso. Sua pele era macia e branca como o algodão. Seus olhos eram grandes e verdes como o mar e sua imensidão. Mas suas mãos... Bom, suas mãos não pareciam mãos dignas de damas suntuosas de uma poesia. Cuidava de seu jardim todos os dias, nomeando cada flor e inseto. Cuidava sozinha de sua mãe doente cuidando sozinha de seu pai dolente e do seu irmão, Roberto.
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Após tê-la levado até sua casa na volta da escola, resolveu pedir a mão da garota para seu pai. Um homem de ar sério e poucas expressões desceu as escadarias para falar com o rapaz. Manuela ouvia ansiosa por detrás da porta de seu quarto.
Não seriam nove meses úteis se não houvesse um casamento aqui. Filha minha não é mãe solteira, dizia o pai desolado. Sua caçula se casaria grávida com o homem do elegante carro e nojento ar amistoso. Isso lhe causava imenso desgosto. Mas ela se casava por amor.
A Sutura
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Cecília era, acima de tudo, alegre. Pintava lindas telas vivas e sobrevivia de seu trabalho. Era independente e se dizia satisfeita na vida, solteira, mas nunca esquecida.
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Algum tempo depois, um jovem, dois anos mais novo que Cecília, portando apenas um coração alheio e uma má índole, a engravida e foge. A família do rapaz insiste em escondê-lo como um covarde.
Cecília era moça que se dizia desgraçada pela vida. Seu pai teria se separado da mãe e vivido com um homem numa interiorana cidade, pagaria uma pensão até seus seis anos de idade. Sua mãe, Manuela, escolheu a vida mariola. Alimentava seus filhos com a marmita que recebia do marido. Marido que lhe batia. Batia-lhe, pois se sentia no direito, já que pagava. Pagava e estava em dia. Só que pagaria com a vida mais tarde. Poucos amigos culparam Manuela. Logo ela que nunca mais os filhos viu.
As Dúvidas
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Uma linda bailarina girava como giravam seus verdes olhos marejados ao acompanhá-la. N’um instante, repregadas cortinas se fecham contando ao espectador que o espetáculo morreu, como morre o dia todos os dias, no cansaço que o escondeu.
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Quando a dança teve seu fim, a reconheceu n’um tumultuado camarim. Sua graça era Rita, sua fita entregava. Rita tira as sapatilhas. Caminha até o móvel descalçada. Descansa estirada em repouso. Abre seus olhos e amanhece um sorriso – seu noivo. Beijos de amor. Os verdes olhos marejados que antes acompanhavam, procuravam a porta que seria batida sem força. Clique.
Miguel era rapaz estudioso. Cuidava de Cecília e se empenhava para entrar na faculdade de Direito. Cecília nunca reconheceu o talento do moço para a arte. Logo cedo, Miguel se apaixonou pela música, mas teve de abandonar a composição e a flauta transversa no meio do caminho. A eloqüência seria agora sua arte. A vitória, sua música. A reputação, sua paixão.
Depois do insucesso com a bailarina, Miguel nunca mais amou ninguém. Nunca teve vontade de ter um filho. Nunca mais sentiu dor também. Mas guardava, daquela noite, um espartilho.
Pinturas escorrem, flores morrem, músicas acabam, um amor geme. E por mais supliciadas que sejam, só o que restou de suas vidas, é o leme.
(Solano Lucena)
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Manuela tinha lindos cachos dourados e um cativante sorriso. Sua pele era macia e branca como o algodão. Seus olhos eram grandes e verdes como o mar e sua imensidão. Mas suas mãos... Bom, suas mãos não pareciam mãos dignas de damas suntuosas de uma poesia. Cuidava de seu jardim todos os dias, nomeando cada flor e inseto. Cuidava sozinha de sua mãe doente cuidando sozinha de seu pai dolente e do seu irmão, Roberto.
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Após tê-la levado até sua casa na volta da escola, resolveu pedir a mão da garota para seu pai. Um homem de ar sério e poucas expressões desceu as escadarias para falar com o rapaz. Manuela ouvia ansiosa por detrás da porta de seu quarto.
Não seriam nove meses úteis se não houvesse um casamento aqui. Filha minha não é mãe solteira, dizia o pai desolado. Sua caçula se casaria grávida com o homem do elegante carro e nojento ar amistoso. Isso lhe causava imenso desgosto. Mas ela se casava por amor.
A Sutura
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Cecília era, acima de tudo, alegre. Pintava lindas telas vivas e sobrevivia de seu trabalho. Era independente e se dizia satisfeita na vida, solteira, mas nunca esquecida.
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Algum tempo depois, um jovem, dois anos mais novo que Cecília, portando apenas um coração alheio e uma má índole, a engravida e foge. A família do rapaz insiste em escondê-lo como um covarde.
Cecília era moça que se dizia desgraçada pela vida. Seu pai teria se separado da mãe e vivido com um homem numa interiorana cidade, pagaria uma pensão até seus seis anos de idade. Sua mãe, Manuela, escolheu a vida mariola. Alimentava seus filhos com a marmita que recebia do marido. Marido que lhe batia. Batia-lhe, pois se sentia no direito, já que pagava. Pagava e estava em dia. Só que pagaria com a vida mais tarde. Poucos amigos culparam Manuela. Logo ela que nunca mais os filhos viu.
As Dúvidas
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Uma linda bailarina girava como giravam seus verdes olhos marejados ao acompanhá-la. N’um instante, repregadas cortinas se fecham contando ao espectador que o espetáculo morreu, como morre o dia todos os dias, no cansaço que o escondeu.
A primeira impressão que teve é de que era a mulher de sua vida. Quando a dança teve seu fim, a reconheceu n’um tumultuado camarim. Sua graça era Rita, sua fita entregava. Rita tira as sapatilhas. Caminha até o móvel descalçada. Descansa estirada em repouso. Abre seus olhos e amanhece um sorriso – seu noivo. Beijos de amor. Os verdes olhos marejados que antes acompanhavam, procuravam a porta que seria batida sem força. Clique.
Miguel era rapaz estudioso. Cuidava de Cecília e se empenhava para entrar na faculdade de Direito. Cecília nunca reconheceu o talento do moço para a arte. Logo cedo, Miguel se apaixonou pela música, mas teve de abandonar a composição e a flauta transversa no meio do caminho. A eloqüência seria agora sua arte. A vitória, sua música. A reputação, sua paixão.
Depois do insucesso com a bailarina, Miguel nunca mais amou ninguém. Nunca teve vontade de ter um filho. Nunca mais sentiu dor também. Mas guardava, daquela noite, um espartilho.
Pinturas escorrem, flores morrem, músicas acabam, um amor geme. E por mais supliciadas que sejam, só o que restou de suas vidas, é o leme.
(Solano Lucena)
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