sábado, setembro 24, 2005

Disseram

Disseram-lhe que a única coisa que aprenderá na vida é amar e ser amado. Iludiram-lhe com a idéia de ser completo, de assim estar seguro. Deram-lhe a impressão de ser bonito. Alma. Deram-lhe um coração e um rosto. A alma. Sinta. O aroma das flores nas árvores. O colorido do céu ao anoitecer. Sinta. A beleza ao abrir um rosto. O gosto doce da vida que recolhe e dá. E recolhe... E dá...

Encheram-lhe seus olhos de lágrimas. Estendiam-lhe as mãos para o infinito, o mundo era pequeno comparado àquilo que estava a sentir. Poderia tocar o céu e anoitecê-lo, sim. Poderia buscar seu amor no outro lado de si. E seu amor estaria ali, ao seu lado, ensolarado, em um dia calmo.

Mas com a parte mais profunda da mão, arrancaram-lhe a alma. Assim, bruto. Como um parto. Rasgante. Uma vez só.

- O amor nada mais é que uma armadilha a si mesmo - com os punhos fechados, disseram a um corpo indefeso, gemente, vazio...

(Solano Lucena)