Culto
Livro nenhum explicava a sensação que ela tinha ao lê-lo.
Ele era um livro em primeira pessoa. Contava suas aventuras ao longo de suas cento e poucas páginas. Era um livro triste. Amarguras de livro, julgado pela aparência, rótulos, ignorado em balaios, reavaliação de sua importância na ditadura, etc.
Teve um amor também. Uma Bíblia havia lhe mostrado o caminho. Seu amor era Jesus. Tinha capítulos que salvariam vidas, inclusive a sua. Mas, com o tempo, o caminho se desfez, impreciso, linhas tortas. Não amava mais Jesus. E isso seria dito no próximo capítulo. “Até descobrir que o caminho está em você mesmo”. Pronto, era taxado auto-ajuda.
Lá estava ele na prateleira, com aquelas companhias chatas, falando coisas chatas, fazendo tipo de eu-sei-o-que-estou-dizendo. Seu prefácio, então, já alertava, “isso não é um desses insuportáveis livros de auto-ajuda”. Pessoas de bom-humor começaram a lê-lo. Era um prefácio muito simpático, realmente. Mas, por ser um livro triste, foi logo esquecido antes do final.
As editoras pararam de publicá-lo. Não renderia lucros. Não traria retorno ao que seria investido. Estava na merda. Até encontrar uma saída, a sarjeta. Por ser único, suas impressões eram marginalizadas. Até que ressurgiu, como um culto do underground. Linhas tortas, tristeza, rejeições, respostas... Muitas pessoas já haviam adquirido seu exemplar genérico. E ele já havia mudado a cabeça de muitas pessoas. Há quem o considerava o melhor livro já lido até então. Outras, o desprezavam por ter uma linguagem comum. Com tantas opiniões sobre, ganhou a crítica literária. Despertando assim um novo envolvimento com editoras especializadas em literatura alternativa. No capítulo 8, ele dizia, “De um conselheiro barato a um genial formador de opiniões”...
Sua arrogância ganhou os jornais. Outros livros em primeira pessoa surgiram depois. Escritos para venderem, logo se tornavam best-sellers. E o pioneiro havia sido esquecido novamente.
Esquecido. Esquecido novamente... Até ela conseguir achá-lo numa biblioteca. Como pode esse livro não ter seu merecido valor nos dias de hoje? Mas seu último capítulo havia uma resposta, “Leia e me arranque as páginas após seu consumo”.
(Solano Lucena)
Ele era um livro em primeira pessoa. Contava suas aventuras ao longo de suas cento e poucas páginas. Era um livro triste. Amarguras de livro, julgado pela aparência, rótulos, ignorado em balaios, reavaliação de sua importância na ditadura, etc.
Teve um amor também. Uma Bíblia havia lhe mostrado o caminho. Seu amor era Jesus. Tinha capítulos que salvariam vidas, inclusive a sua. Mas, com o tempo, o caminho se desfez, impreciso, linhas tortas. Não amava mais Jesus. E isso seria dito no próximo capítulo. “Até descobrir que o caminho está em você mesmo”. Pronto, era taxado auto-ajuda.
Lá estava ele na prateleira, com aquelas companhias chatas, falando coisas chatas, fazendo tipo de eu-sei-o-que-estou-dizendo. Seu prefácio, então, já alertava, “isso não é um desses insuportáveis livros de auto-ajuda”. Pessoas de bom-humor começaram a lê-lo. Era um prefácio muito simpático, realmente. Mas, por ser um livro triste, foi logo esquecido antes do final.
As editoras pararam de publicá-lo. Não renderia lucros. Não traria retorno ao que seria investido. Estava na merda. Até encontrar uma saída, a sarjeta. Por ser único, suas impressões eram marginalizadas. Até que ressurgiu, como um culto do underground. Linhas tortas, tristeza, rejeições, respostas... Muitas pessoas já haviam adquirido seu exemplar genérico. E ele já havia mudado a cabeça de muitas pessoas. Há quem o considerava o melhor livro já lido até então. Outras, o desprezavam por ter uma linguagem comum. Com tantas opiniões sobre, ganhou a crítica literária. Despertando assim um novo envolvimento com editoras especializadas em literatura alternativa. No capítulo 8, ele dizia, “De um conselheiro barato a um genial formador de opiniões”...
Sua arrogância ganhou os jornais. Outros livros em primeira pessoa surgiram depois. Escritos para venderem, logo se tornavam best-sellers. E o pioneiro havia sido esquecido novamente.
Esquecido. Esquecido novamente... Até ela conseguir achá-lo numa biblioteca. Como pode esse livro não ter seu merecido valor nos dias de hoje? Mas seu último capítulo havia uma resposta, “Leia e me arranque as páginas após seu consumo”.
(Solano Lucena)
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