quinta-feira, julho 21, 2005

Estranho

Estranho. Ele era estranho. Sentia saudade da mulher que ainda não conhecia. Mas conheceria. E seria bom. Ele tinha certeza que a encontraria, seja lhe pedindo fogo para acender um vício ou pedindo uma explicação de onde estava, para onde iria, como faria...

Ela pegaria em sua mão e sairiam voando pelo mundo. Ela também era muito estranha. Não acreditavam em si mesmos. Estavam num bistrô europeu bebendo vinho europeu e reclamando do frio asiático. Estavam em São Sebastião do Caí pedindo informações pela janela do carro. Estavam na área de serviço lavando camisas sujas de batom. Sujas por Ela, claaaro...

Conheceriam a vida pelos seus óculos de sol de girassol. Acabariam brigando. Depois voltariam a se entender. Mas brigariam de novo. Ele ligaria para ela às três da manhã para dizer que a ama. Ela pedirá para ele ligar em horário comercial e voltará a dormir. Ele acordará desanimado, ela acordará com outra ligação.

Eles esqueceriam o dia que se conheceram. Ele não tinha fogo, mas ela não fumava mesmo. Se tivessem um filho, ele se chamaria Rodrigo. Não, Gibraltar. Mas Gibraltar não é nome de criança! Ela queria Gibraltar. Ele não queria mais ter filhos.

Ele lhe mandaria um buquê. Um buquê de trigos. Sim, trigos. Anexo a ele, um bilhete. O que vem a ser o amor, senão o campo onde semeia o bem? O campo onde conquistamos, residimos, vestimos. Do nosso amor, fizemos pão. É o pão que cada dia nos abriga, mas é o amor que nos alimenta.

E ela morreria de amores por ele. Morreria ou mataria? Eles combinariam de morrer juntos. Unificar o espírito, acreditar em algo. Amor ou morte? Morrer pelo coração. Eles morreriam em lençóis borrados. Dois corpos em penetração. Românticos diriam que era o olhar do artista. De ambos. Psicanalistas diriam que era um distúrbio emocional. Dois. E os céticos dirão que era só uma fase. Mas que, logo logo, passaria...

(Solano Lucena)