Centímetro
Adoecia em um quarto vazio. Escorando-se, dividia-se em mofo e rachaduras. Caindo sentado, estendendo os braços. Apertando o corpo contra a parede com força. Diminuindo cada centímetro. Recolhendo as pernas finas de quem não mais se alimentava. Tremulando as mãos como se houvesse algum mal. E havia um mal, a namorada. A namorada ensangüentada queria lhe confidenciar algo. A boca da namorada coberta de coágulos e balas. E beijos. E lágrimas. E palavras silenciadas por homens de capuz branco em noite preta.
Ele adoecia naquele quarto vazio. Um quarto no meio do nada. As paredes eram sua companhia, elas compartilhavam da insanidade, da tristeza de um jovem olhar. Olhar insistente para a porta. No vão, o rastro da claridade se esvaía, se desesperava. Não! Será mais uma vez noite. Os gritos eram camuflados pelo desespero que aquele corpo representava. Conforme a luz do sol diminuía, desaparecia. Desaparecia. Até que sumiu. Os ossos foram diluídos no cimento que arquitetava o quarto. O único vestígio de vida ali era o eco de seus gritos... E os seus gritos insistiam em ecoar.
(Solano Lucena)
Ele adoecia naquele quarto vazio. Um quarto no meio do nada. As paredes eram sua companhia, elas compartilhavam da insanidade, da tristeza de um jovem olhar. Olhar insistente para a porta. No vão, o rastro da claridade se esvaía, se desesperava. Não! Será mais uma vez noite. Os gritos eram camuflados pelo desespero que aquele corpo representava. Conforme a luz do sol diminuía, desaparecia. Desaparecia. Até que sumiu. Os ossos foram diluídos no cimento que arquitetava o quarto. O único vestígio de vida ali era o eco de seus gritos... E os seus gritos insistiam em ecoar.
(Solano Lucena)
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