terça-feira, agosto 02, 2005

Moinhos

Não estava a casa ao pé da fonte. Ela quase tocava o céu com a chaminé e a chuva não a alcançava. A casa tinha três quartos p’ra você, esperando seu retorno, te desejando boas-vindas. Onde quer que você esteja, você voltará, é sabido. Na mesa, três crianças lindas tomam sopa de letrinhas. O chão era limpo e espelhado. Espelhava o teto que espelhava o chão que espelhava o céu. No alto das cortinas, um sonho amadurecia. Queria voar para bem longe, para onde as lágrimas fossem preciosas, para onde as armas fossem douradas. E quando estiver longe, longe da casa, longe das crianças, longe de você, perto das lágrimas, perto das armas, perto da possibilidade de realizar um sonho, cegar. Cegar e não ver que, o tempo todo, era a fonte que estava ao pé da casa.

(Solano Lucena)