terça-feira, janeiro 17, 2006

A Explosão na Casa de Dona Aurora

As janelas, todas elas, estavam fechadas. Era um silêncio. Chegou cedo, onde estava Aurora? Eram seis horas, já devia ter saído. Encontrou a chave no fundo da pasta. Entrou pela porta que o tapete arrastava. A casa estava uma bagunça. Camiseta do filho pelo sofá. Jornal de anteontem pelo chão. Ventilador ligado. Maldito clima.

As janelas, todas elas, estavam fechadas. E aquele silêncio. Na pia, as panelas. Sujas, desde que saiu. Lavou as panelas. Abriu as janelas. Pôs as roupas do filho no quarto do filho. O jornal de anteontem no cesto de lixo. O ventilador voltado para si. E a fotinho d'Aurora fez um sorrir. A casa já tinha cor, cheiro, som. O amor era o clima e o clima era bom.

Até se abrir a porta do quarto. Essa não arrastava o tapete. Não fazia ruído. Só levava ao paraíso: a cama d'Aurora. Que dormia com outro. Aliás, bonito o outro. Moreno, alto, magro. Ele não quis incomodar, saiu de mansinho. Fechou a porta que não arrastava o tapete, que não fazia ruído, que só levava ao paraíso. Fechou a porta e os deixou dormindo. O clima já era incolor. Era inodoro. Silencioso. Silencioso. Até que a rua inteira ouviu um imponente estrondo. Bum! Sua primeira lágrima cai ao chão.

(Solano Lucena)