domingo, janeiro 15, 2006

Sapatos

Para calçar os sapatos do meu amor, é preciso se ver distante. É preciso caminhar junto. É preciso caminhar junto e socorrer a dor quando o amor desatina a doer. Como calçada, meu amor teima em não ser pisado.

Para calçar os sapatos do meu amor, é preciso esquecer. Esquecer do amor. Da intenção. Esquecer o querer de calçar seus sapatos. Sapatos bonitos, diga-se de passagem. Mas não diga a ele, amores vaidosos não se consomem com elogios.

Para calçar os sapatos do meu amor, é preciso entender. Meu amor não tem pés. Ele não rasteja pelo chão. Ele também não paira sobre outros amores. Não. O meu amor está estático, onde nunca parou e nunca começou.

(Solano Lucena)