quinta-feira, janeiro 05, 2006

Por quê?

Ele estava sentado em uma mesa do saguão do shopping center. Fazia? Nada. Estava esperando alguém que talvez não merecesse ser esperado. Uma menina. Menina mesmo, fazia coisas de meninas, morrer, morrer, acordar e ir p’ra escola. Haviam marcado a espera, em uma mesa do saguão do shopping center.

Coisas do coração ele fazia. Estava ali por destino ou talvez por teimosia. Ela chegaria da escada rolante, iria sorrir, puxaria uma cadeira e sentaria à sua frente. E ele não deixaria de esperá-la. Menino...

Escrevia uma carta, enquanto esperava. Na carta, dizia que estava ali. Dizia como seria bom conhecê-la. Dizia o que esperava que acontecesse se não acontecesse nada. Dizia algumas coisas de menino. Coisas do menino que o tempo não superava de jeito algum. Coisas que o menino há tempos esperava dizer:

- Menina,...

Bebia água mineral, enquanto esperava. Água para secar a ansiedade. Água incolor para dar vida. Vida para quê? Vida para que?, se ela não viria. A água, na verdade, era só o pretexto para se levantar e ir embora quando a garrafa estivesse vazia.

(Solano Lucena)