O último que chegar na Sinagoga é a mulher do Bento!
Shamir tinha um álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 90. Não estava completo, mas dava p'ra saber bem quem eram os principais jogadores de cada seleção.
Allan era obcecado por pássaros. Ganhou uma máquina fotográfica do seu pai de Natal Judaico. Pai, eu quero uma máquina fotográfica de natal! Foi difícil explicar que não...
Ambos tinham algo em comum, além da grande amizade, eram apaixonados por Judith, a filha de Moises. Ela era linda, dois anos mais velha que eles, lábios apreensivos para dar uma notícia. Irei partir segunda para Marselha, uma cidade na França. Em um mesmo segundo, aqueles lábios condenaram duas vidas.
- Onde você vai também tem pessoas de outras religiões?
- Tem, sim. Muitas.
- Mas também tem a hebraica, né?
- Meu pai disse que sim.
- É verdade que lá quase não tem meninos?
- Hmmm... É... - não quis contrariá-los.
Eles ficaram contentes. A França não havia disputado a Copa do Mundo de 1990. Se fosse verdade que na França não havia meninos, eles poderiam passar quatro anos a esperando. Como fizeram...
Mudavam aos poucos, mas mudavam juntos. Tinham muito medo de preconceituosos. Viam assumir o papado um homem com passado nazista. Viam atentados terroristas nos noticiários. Recebiam cartas saudosas de Paris. E sentiam tudo isso com coração de criança.
Allan despejava lágrimas em água salgada. Shamir era mais sério, parecia não se deixar doer. Tomavam banho de mar e olhavam-se pouco vestidos. Um consolava o outro. Em silêncio. As ondas traziam p'ra terra tudo aquilo que a natureza recusava. Pássaros assim se alimentavam. Beijaram-se. Allan beijava abraçando, Shamir abria os olhos.
- Quando Judith voltar, nós vamos viver a três, não é?
- Sim. Mas, e se ela não voltar?
- Ela volta. A França quase não tem meninos, lembra?
(Solano Lucena)
Allan era obcecado por pássaros. Ganhou uma máquina fotográfica do seu pai de Natal Judaico. Pai, eu quero uma máquina fotográfica de natal! Foi difícil explicar que não...
Ambos tinham algo em comum, além da grande amizade, eram apaixonados por Judith, a filha de Moises. Ela era linda, dois anos mais velha que eles, lábios apreensivos para dar uma notícia. Irei partir segunda para Marselha, uma cidade na França. Em um mesmo segundo, aqueles lábios condenaram duas vidas.
- Onde você vai também tem pessoas de outras religiões?
- Tem, sim. Muitas.
- Mas também tem a hebraica, né?
- Meu pai disse que sim.
- É verdade que lá quase não tem meninos?
- Hmmm... É... - não quis contrariá-los.
Eles ficaram contentes. A França não havia disputado a Copa do Mundo de 1990. Se fosse verdade que na França não havia meninos, eles poderiam passar quatro anos a esperando. Como fizeram...
Mudavam aos poucos, mas mudavam juntos. Tinham muito medo de preconceituosos. Viam assumir o papado um homem com passado nazista. Viam atentados terroristas nos noticiários. Recebiam cartas saudosas de Paris. E sentiam tudo isso com coração de criança.
Allan despejava lágrimas em água salgada. Shamir era mais sério, parecia não se deixar doer. Tomavam banho de mar e olhavam-se pouco vestidos. Um consolava o outro. Em silêncio. As ondas traziam p'ra terra tudo aquilo que a natureza recusava. Pássaros assim se alimentavam. Beijaram-se. Allan beijava abraçando, Shamir abria os olhos.
- Quando Judith voltar, nós vamos viver a três, não é?
- Sim. Mas, e se ela não voltar?
- Ela volta. A França quase não tem meninos, lembra?
(Solano Lucena)
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