terça-feira, maio 31, 2005

Olhos de Amigo

...e meus olhos pretos perseguiam teus olhos ardósias. Talvez com uma esperança de encontrar neles um pedaço de paraíso, de lá se catequizarem, não sei. Sei apenas que são olhos coloridos. De cores e sentidos. Reparava, um dia desses, as nossas diferentes visões de mundo, sabe? Meus olhos parecem mirar milhares de olhares. E percorrem todos eles sem nada exaltar. São olhos compridos. Os teus olhos, não. Teus olhos não escorregam em outro olhar, parece que nada mais interessante há para se ver na vida. Meus olhos acham beleza nessa tua forma de enxergar. Nos teus olhos de vidro...

Olha nos olhos.

Parece que cada vez mais nos distanciamos. Meus olhos são diluídos em água e sal. Bebem do desejo e se alimentam de esperança. Culpa minha, talvez. Talvez tenha me cegado. Talvez tenha visto demais. Talvez tenha me maravilhado em tuas formas – o que teus olhos sábios nunca quiseram. Sabem de toda beleza possível. E escorregam nos meus olhos para nada explicar... Meus olhos comprimidos. Seguem pretos. Seguem sofridos. Seguem mirando milhares de olhares. E construindo novas formas de te olhar, de te olhar com olhos de amigo.

(Solano Lucena)