domingo, junho 05, 2005

Adriana abre a janela

(ouvindo Portishead)

Acordara cedo para ir à escola, mas nem suspeitava que aquela manhã era uma manhã de sábado. Foi só quando sua mãe lhe avisou, que resolveu, então, voltar para o quarto. Adriana não tinha mais o que fazer. Resolveu abrir a janela para que se iniciasse o dia, não tinha sono.

Levantou vagarosamente o vidro pesado, sentindo o vento frio que vinha da rua. Ao se deparar com a veneziana, resolveu pôr um blusão, pois estava ventando forte. Abriu então a veneziana, mas fechava novamente o vidro. O dia estava nublado.

A vista de seu quarto era uma rua sem saída repleta de mansões. Calçada de paralelepípedo. Carros antigos. Ela gostava, um dia moraria entre aqueles muros. Em uma das casas, um homem a espiava pela sacada. Robe vinho e cachimbo. Ela fingia que não via o curioso, que aos poucos se agachava para garantir o segredo da espreitada.

Adriana desabotoava o blusão vagarosamente. Um a um. Pronto, estava só de camisola novamente. Dançava para ele ao som de Portishead. E não demoraria muito para estar nua. Ela se divertia bebendo uma garrafa de licor que antes servia de bibelô na sala de estar. Sorria para o homem. Que a brindava com o licor de mesmo rótulo.

O que aconteceu ali foi um estupro de uma moça de dezessete anos. E que a vida de Adriana nunca mais foi a mesma.

(Solano Lucena)