O Sentimentalóide
A declaração do Sapo do lago:
Penso pelas pernas e não vejo em mim o que quero. Sou muito menos do que o meu senso crítico considera bom.
Amo-a de verdade. Passo noites tentando entender o porquê. E o porquê dela ter se interessado por algo tão vazio existencialmente como é o príncipe de sua vida. E sei (tenho em mim a certeza) que, se fosse seu amigo, ao menos a teria por perto, saberia de seu coração e do estado dele antes. Seria, então, o ente mais fiel que ela teria p’ra si.
A declaração da Princesa de Feliz:
Nada sei sobre o ser humano, no mundo só vejo felicidade. Nada pode derrubar a beleza da vida presente que há, sei, só entre os muros do castelo. Meu príncipe me aguarda. Amo-o pelas virtudes de suas nobres palavras.
A declaração do Príncipe de sua vida:
Yeah!
A declaração do Sapo do lago:
Vejo-me atento a seus passos. Corre ela junto ao lago cantarolando canções populares, que diz não saber onde aprendeu. Apresento-me, finalmente, co'a minha esperança de me tornar príncipe um dia. Tenho-na como ser maior da natureza. Acho que gostou de mim.
A declaração da Princesa de Feliz:
Corria eu junto ao lago, cantarolando as bregas músicas que os súditos do palácio cantavam em meu banho, quando, repentinamente, deparei-me com um sapo falante. Exemplificava ele as diferentes formas de amor, até propor-me a incondicional. Grátis. Não sei de amizades, nunca tive um amigo ou irmão. Vi o mundo sob uma nova ótica. O que sou comparada à grandeza do universo? Fui feliz ao conhecer a cultura que esse simples sapo me proporcionara. Sou algo mais completa agora. E, quando vi, estava atrasada, tinha que ouvir as lindas poesias declamadas por meu amado.
A declaração do Príncipe de sua vida:
Yeah! It’s only rock’n’roll, baby!
A declaração do Sapo do lago:
N’outro dia, cá estava ela, linda, como não podia deixar de ser. Pedia-me conselhos e chorava graças à forma que seus atos eram interpretados por seu pai e noivo. O fato de sua pureza ter se perdido no tempo colocaria em dúvida, também, sua fidelidade. Nada pude dizer para confortá-la. Não sou bom em falsas palavras, como é seu príncipe.
A declaração da Princesa de Feliz:
Nunca estive n’uma situação assim. Os dois homens da minha vida exclamando adúltera por entre os corredores do castelo. Questionava-me sobre minha sanidade. Estaria eu, realmente, me confessando para um sapo?
A declaração do Príncipe de sua vida:
Nada tenho a declarar sobre a trama neste ponto. Minha intromissão fica restrita a uma personagem de contestáveis interesses e, caracterizando o empecilho d'um romance, abstenho-me de refletir sobre as demais coisas. Obrigado.
A declaração do Sapo do lago:
Angustiada pela postura firme de seu pai, estava ela trancafiada em seu quarto sem poder, ao menos, abanar-me (a janela fica do lado contrário ao lago). Sinto-me só e insaciado, parece que meus planos não foram traçados como deveriam. Creio que nunca terei o calor da sua presença junto ao meu insignificante corpinho anfíbio.
A declaração da Princesa de Feliz:
Porque minha vida toma este rumo? Nunca fui uma má filha ou desonrosa para meu noivo. O que pode ter-me feito assim: aflita, supliciosa, gemente, lacrimosa, contristada, dolorosa, dolente, chorosa... Hmmm... Triste?
Só pode ser... O Sapo! Nunca tive tal sensação, tomar as próprias lágrimas salgadas. Só pode ser aquele Sapo calunioso. Meu reflexo no espelho é deplorável. E só há um jeito de me ver sorrindo outra vez, de voltar à minha antiga vaidade: matando o Sapo!
A declaração do Príncipe de sua vida:
Foi um grito alto vindo da direção do lago. Ela se lastimava pela morte de uma rã. Não entendo o porquê, mas a partir dali, ela voltara a ser a menina que era. Nós vivemos felizes para sempre, eu acreditando no lado prático da vida e ela com o seu ar de romântica incompreendida que ainda crê n’um amanhã melhor... Tolices, meu bem, tolices.
(Solano Lucena)
Penso pelas pernas e não vejo em mim o que quero. Sou muito menos do que o meu senso crítico considera bom.
Amo-a de verdade. Passo noites tentando entender o porquê. E o porquê dela ter se interessado por algo tão vazio existencialmente como é o príncipe de sua vida. E sei (tenho em mim a certeza) que, se fosse seu amigo, ao menos a teria por perto, saberia de seu coração e do estado dele antes. Seria, então, o ente mais fiel que ela teria p’ra si.
A declaração da Princesa de Feliz:
Nada sei sobre o ser humano, no mundo só vejo felicidade. Nada pode derrubar a beleza da vida presente que há, sei, só entre os muros do castelo. Meu príncipe me aguarda. Amo-o pelas virtudes de suas nobres palavras.
A declaração do Príncipe de sua vida:
Yeah!
A declaração do Sapo do lago:
Vejo-me atento a seus passos. Corre ela junto ao lago cantarolando canções populares, que diz não saber onde aprendeu. Apresento-me, finalmente, co'a minha esperança de me tornar príncipe um dia. Tenho-na como ser maior da natureza. Acho que gostou de mim.
A declaração da Princesa de Feliz:
Corria eu junto ao lago, cantarolando as bregas músicas que os súditos do palácio cantavam em meu banho, quando, repentinamente, deparei-me com um sapo falante. Exemplificava ele as diferentes formas de amor, até propor-me a incondicional. Grátis. Não sei de amizades, nunca tive um amigo ou irmão. Vi o mundo sob uma nova ótica. O que sou comparada à grandeza do universo? Fui feliz ao conhecer a cultura que esse simples sapo me proporcionara. Sou algo mais completa agora. E, quando vi, estava atrasada, tinha que ouvir as lindas poesias declamadas por meu amado.
A declaração do Príncipe de sua vida:
Yeah! It’s only rock’n’roll, baby!
A declaração do Sapo do lago:
N’outro dia, cá estava ela, linda, como não podia deixar de ser. Pedia-me conselhos e chorava graças à forma que seus atos eram interpretados por seu pai e noivo. O fato de sua pureza ter se perdido no tempo colocaria em dúvida, também, sua fidelidade. Nada pude dizer para confortá-la. Não sou bom em falsas palavras, como é seu príncipe.
A declaração da Princesa de Feliz:
Nunca estive n’uma situação assim. Os dois homens da minha vida exclamando adúltera por entre os corredores do castelo. Questionava-me sobre minha sanidade. Estaria eu, realmente, me confessando para um sapo?
A declaração do Príncipe de sua vida:
Nada tenho a declarar sobre a trama neste ponto. Minha intromissão fica restrita a uma personagem de contestáveis interesses e, caracterizando o empecilho d'um romance, abstenho-me de refletir sobre as demais coisas. Obrigado.
A declaração do Sapo do lago:
Angustiada pela postura firme de seu pai, estava ela trancafiada em seu quarto sem poder, ao menos, abanar-me (a janela fica do lado contrário ao lago). Sinto-me só e insaciado, parece que meus planos não foram traçados como deveriam. Creio que nunca terei o calor da sua presença junto ao meu insignificante corpinho anfíbio.
A declaração da Princesa de Feliz:
Porque minha vida toma este rumo? Nunca fui uma má filha ou desonrosa para meu noivo. O que pode ter-me feito assim: aflita, supliciosa, gemente, lacrimosa, contristada, dolorosa, dolente, chorosa... Hmmm... Triste?
Só pode ser... O Sapo! Nunca tive tal sensação, tomar as próprias lágrimas salgadas. Só pode ser aquele Sapo calunioso. Meu reflexo no espelho é deplorável. E só há um jeito de me ver sorrindo outra vez, de voltar à minha antiga vaidade: matando o Sapo!
A declaração do Príncipe de sua vida:
Foi um grito alto vindo da direção do lago. Ela se lastimava pela morte de uma rã. Não entendo o porquê, mas a partir dali, ela voltara a ser a menina que era. Nós vivemos felizes para sempre, eu acreditando no lado prático da vida e ela com o seu ar de romântica incompreendida que ainda crê n’um amanhã melhor... Tolices, meu bem, tolices.
(Solano Lucena)
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