domingo, dezembro 30, 2007

Um homem só: eu te amo

Entra um homem com uma máscara em uma mão e uma cartola em outra. Deixa a máscara de um lado e veste a cartola.

- Essa é a história de um homem só. Nem um romance, nem uma tragédia, nem mesmo um diálogo. Essa é apenas a história de um homem só.

O homem tira a cartola, senta no fundo do palco e aguarda. E, após passar algum tempo, diz.

- Não vai dizer nada?

Corre até a máscara, veste e responde.

- Como?

- Não vais dizer nada? Está há horas aí parado me olhando e nem me deste uma justificativa para tal.

- Que tás dizendo? Eu não te entendo.

- É simples, você está me amando e não sabe.

- ...

- Você está me amando e não sabe como agir. É normal, é bem o teu tipinho, aquele tipo de pessoa que se massacra em nome de sentimentos, que, paradoxalmente, julgam-se "vagos e efêmeros". Sabemos que é mentira, teu ego não cabe em ti, darling.

- Hmmm... Por que “te amando”?

- Por que somos parecidos. Você se identificou comigo e pôs seus olhos aqui. (apontando para seu corpo) Não negue, você me olhava e até gostou que eu dissesse isso agora.

- Eu não entendo...

- Não precisa entender, bestinha, apenas aceite! Você é carente! Carente! Tadinho, tititi... (provocando)

- Eu... Eu apenas olhava para a cartola da tua mão.

- "Para a cartola da mão"... (ridicularizando)

- É. Eu não quero amar ninguém... Cansei, sabe? Como pode alguém cansar de dar amor?

- Cansei de dar amor... (inconformado)

- Pois é, não entendo, mas cansei de tentar entender também. Eu apenas olhava para a cartola de sua mão...

- Desculpa, então! (ainda inconformado)

- Por nada. (...) Enfim, agora, vista-a e me diz algo bom.

Essa é a história de um homem só.

(Solano Lucena)