O(s) Altar(es) Certo(s)
Andava José pela rua desiludido (culpa de sua falta de fé – assim disse Maria). Não comia, não era comido. Procurava ele por alguém que lhe completasse os dias todos os dias, coisas de Josés.
Até que ouvira, da janela de um casebre, a voz gostosa de uma moça de camisola rouca. Rezava ela. Seus joelhos nus eram marcados pelo tapete gasto, suas mãos juntas só se desfaziam para espantar os ateus mosquitinhos de seu quarto.
- Papai do Céu, salve a mamãe do mal que não sofre. E deixe o papai bem longe do Céu. Tire as mágoas da mesa de quem não tem e adoce o rosto de meu inimigo para seu próprio bem. Sirva de mosqueteiro bom na minha cama e para meus anjinhos competentes, abana?
Impressionado com a simplicidade da moça, saía José. Aquela menina era linda, era boa e graciosa. Refez-se no bar da rua de cima. Pediu informação a uma mulher extravagante, que usava grandes jóias, um crucifixo reluzente e trajava um vestido tão curto, que nem parecia caber todas as cores que ali havia.
- Quem é ela?
- Maria,
Filha de Ticiana e Osório,
Um anjo de garota.
Sofre, mas nunca reclama dos pais – Ticiana come a cuca que o demo cuspiu.
Osório é o próprio demo. Cospe a cuca na Ticiana que comeu e não consentiu.
A janela estava quebrada. A lâmpada do poste vazava pela janela até a cama vazia. Os grilos cantavam o mais alto que podiam. Corria José com Maria nas costas. Jesus no coração também era lembrado. Atravessava o vilarejo até chegar próximo da mata. Colocava Maria no chão e com um beijo na boca acordava sua assustada bem-amada.
- Que queres? Quem és? Católico ou pagão?
- Amo-te mais, mulher
Quer meu próprio Amo?
Sumi na escuridão dali
E lá, em seu clarão, me pus.
- Hmmm... E o que tens no coração? A luz? Mundano ou cristão?
- Mundano, entorpecido por Deus
Silêncio na relva da Sua reza
Preza por mim, me pesa,
Ouro...
Sacos d’ouro – nosso paraíso
De meu séqüito conforto,
Juízo.
Juízo. Ela havia se impressionado com o ato de bravura do rapaz. Casaram-se dois meses depois. Osório vendeu sua filha por três sacas de ouro. Ticiana dava graças a Deus por não ter mais que explicar quão feliz era a vida de uma mulher casada.
E todos viveram com Deus no coração.
(Solano Lucena)
Até que ouvira, da janela de um casebre, a voz gostosa de uma moça de camisola rouca. Rezava ela. Seus joelhos nus eram marcados pelo tapete gasto, suas mãos juntas só se desfaziam para espantar os ateus mosquitinhos de seu quarto.
- Papai do Céu, salve a mamãe do mal que não sofre. E deixe o papai bem longe do Céu. Tire as mágoas da mesa de quem não tem e adoce o rosto de meu inimigo para seu próprio bem. Sirva de mosqueteiro bom na minha cama e para meus anjinhos competentes, abana?
Impressionado com a simplicidade da moça, saía José. Aquela menina era linda, era boa e graciosa. Refez-se no bar da rua de cima. Pediu informação a uma mulher extravagante, que usava grandes jóias, um crucifixo reluzente e trajava um vestido tão curto, que nem parecia caber todas as cores que ali havia.
- Quem é ela?
- Maria,
Filha de Ticiana e Osório,
Um anjo de garota.
Sofre, mas nunca reclama dos pais – Ticiana come a cuca que o demo cuspiu.
Osório é o próprio demo. Cospe a cuca na Ticiana que comeu e não consentiu.
A janela estava quebrada. A lâmpada do poste vazava pela janela até a cama vazia. Os grilos cantavam o mais alto que podiam. Corria José com Maria nas costas. Jesus no coração também era lembrado. Atravessava o vilarejo até chegar próximo da mata. Colocava Maria no chão e com um beijo na boca acordava sua assustada bem-amada.
- Que queres? Quem és? Católico ou pagão?
- Amo-te mais, mulher
Quer meu próprio Amo?
Sumi na escuridão dali
E lá, em seu clarão, me pus.
- Hmmm... E o que tens no coração? A luz? Mundano ou cristão?
- Mundano, entorpecido por Deus
Silêncio na relva da Sua reza
Preza por mim, me pesa,
Ouro...
Sacos d’ouro – nosso paraíso
De meu séqüito conforto,
Juízo.
Juízo. Ela havia se impressionado com o ato de bravura do rapaz. Casaram-se dois meses depois. Osório vendeu sua filha por três sacas de ouro. Ticiana dava graças a Deus por não ter mais que explicar quão feliz era a vida de uma mulher casada.
E todos viveram com Deus no coração.
(Solano Lucena)
<< Home