sábado, setembro 25, 2004

Soluções

O namorado prático
Levo-te novas flores, solução, dessa vez são begônias
Espero que gostes da cor

A namorada apática
Passa de mão em mão meu coração, de pessoas errôneas
Na certa, ele inda não chegou

O poeta pálido
Afino a voz de minha pena branca,
molho-a nas mágoas do tinteiro

Um profeta trágico
Esqueço da dor da minha santa,
E queimo o inferno no cinzeiro

Um Oceano Índico
Passa o navio, um couraçado de guerra
Relíquias tristes, um silencioso Vietnã

Um Solano Místico
Traço, relato, não centrado na trégua
Infernos, mágoas, cinzas e uma santa vã.

(Solano Lucena)

quinta-feira, setembro 23, 2004

SOS, Matas Rio

Um dia a natureza te deu pernas para que pudesse sair do lugar. Um dia a natureza te fez inteligente para sábio se auto-denominar. Um dia a natureza te deu braços para que pudesse abraçar. Um dia a natureza te deu duas mãos para alguém salvar.
Um dia a natureza te fez uma pessoa justa, sensata e esguia.

Agora, se ela não está arrependida, deveria.

(Solano Lucena)

Shiva

Onde me viste tão bondosa, tão jocosa, deliciosa?
Sabia que não seria por mim, mas, de todo meu amor, te fiz honrado
Procurarias, enfim, a senhora, a fogosa, amorosa
Triste, levanta e sai assim, como se eu te houvesse transtornado

Ligaste o chuveiro, atrapalhado, molhaste a casa toda
A água gelada refresca bem a cabeça que recém havias perdido
Desligaste ligeiro. Vieste dizer-me algo sem roupa?
Bocas se perdem na vontade de sacrificar o que estava já ferido

Tuas palavras saem em paz, meus ouvidos crêem
Só eu que te compreendo. É, amor
A porta bate e eu corro atrás, meu odioso bem
Grito e, se não te bato, é favor

Teus maldizeres ferem, teus filhos ouvem
E eu me debruço – dor
chorosa em pleno inferno, nossa vida vem
e me faz assim, flor.

(Solano Lucena)

"Todo Artista acha"

Todo Artista acha
na cúpula oculta do artista
uma cúmplice culpa pela farsa.

(Solano Lucena)