domingo, agosto 13, 2006

Dois Setembros

Eu te encontrei tão bonita
Você espantava a morte
Com seu sorriso de vida
Com seu hálito forte

Eu te dei uma flor
Eu te dei minha sorte
Eu te dei meu amor
O meu norte

Eu te dei minha paz
Eu te dei o meu tempo
E não te dei nada mais
Que dois setembros

Eu te quis tão sozinho
E você que só queria
O pedaço de meu caminho
Que feliz eu te daria

Mas hoje eu morri por você
Hoje eu morri por um qualquer
Que você jurou esquecer
Com as tuas certezas de mulher

(Solano Lucena)

Chão de Todos

Conduzi o barco vindo de longe, lusitana Ilha de Açores. Contra tempestades, contra-tempos, muita dificuldade em atracar. Vimos brilhar a estrela nesse chão de todos os sabores e avisaste aos homens dali:

- É por aqui que nós vamos ficar.

Limpei o que não era bendito. Negociei com aqueles Senhores, que tinham secreto p’ra si: o sucesso da terra, como será? Trabalhávamos o dia todo. Revelávamos nossos pudores e a falta de coragem em silêncio é só o que tínhamos a enfrentar.

Fiz das tuas lágrimas, lagoa. De teu perfume, raras flores. Das tuas certezas, estações. E a tua bravura era o que iríamos cultivar. Sempre soubeste lutar pelo teu povo, contra seus passados e dores, mas o tempo passou traiçoeiro e, nisso, minhas mãos não puderam tocar.

Linda, se tornaste borboleta, alegria, arco-íris, sol, outras cores. O belo da tua vida reflete no ferro e mostra aos novos o que se deve trilhar.

Sou agora Pai, Filho ou Espírito Santo, sou um desses Grandes Criadores, saudoso pela imortalidade e feliz, satisfeito, contente por nosso lar. Gigante, graças ao horizonte, onde viram capital, os laçadores... Encha-me de orgulho, terra viril que os Senhores souberam abençoar, e grite aos quatro cantos desse Brasil:

- Sou Porto Alegre e homem de um só lugar.

(Solano Lucena)

Debute

Em cores mil. Em tons de gris. Um bordado eu fiz para te ver vestir. Um festejo feliz, um dançar com outro par. E a minha mente estará no teu vestido a rodar. Pela dança ou salão. Pela valsa ou luar, uma mulher só te imaginará. Sem o traje, faceira. Sem as vestes, desnuda. Com os olhos em mim e eu com olhos em tua nuca.

Sente no corpo.

Te comendo inteira. Te chamando de puta. Se fazendo casal, no teu corpo, a água e o açúcar.

Cala na boca.

(Solano Lucena)

Soberana sobre dramas

Para você que está acordando agora, bom dia!

É sexta-feira, são sete horas, em Porto Alegre faz sol. E aqui no Morro Santa Teresa, a temperatura é de catorze graus. Mais uma semana termina e nela o amor se faz de lição... Eu soube do choro pelas palavras que maltrataram teu coração... Soberana sobre dramas, essa próxima canção foi feita p'ra ti. Como desculpas. Com todo apreço. Não desligue teu rádio e nem pense em dormir.

Aliás.

Levanta da cama e presta atenção. Saiba que ele te ama e está no portão. Se duvida, olhe pela persiana, mas vista um blusão... Pois catorze graus é toda a frieza do mundo se comparado ao dia que vocês terão.

(Solano Lucena)