segunda-feira, dezembro 04, 2006

Os Últimos e os Primeiros

Em cada porta, era avisado: não vá. Não, eu sigo. Em cada beijo, despedida, era uma súplica. Não vá. Não. Eu sigo. Havia obstáculos a cada passo: não vá. Risos. Eu consigo. O tapete se tornava menos gasto a cada metro. Não vá.

Eu sigo.

Há milhares de coisas na vida que precisam ser revistas. Televisionadas. Nada. Há milharais de coisas na vida tomadas de urubus. Há urubus em toda parte. E minhas partes retratam o inteiro. Há, inteiros, a dor e o certo. Concreto e irreal. E eu serei a realidade que, sem cheiro, cor ou credo, bate na culpa do célebre cordial.

"A Grande Questão Filosófica de Nosso Tempo".

Há gente na vida dos outros, por que não aqui? Há vida na vida dos outros e eu sigo com duas ou três certezas. Só. Serei lembrado por duas vezes. Os dias que nasci. Os dias que morri. Os primeiros serão comemorados e por aqui eles vivem.

Os últimos serão calados. E, por eles, morrem.

Sigo certo que o maior erro é optar pelo incerto, quando é de desertos que se preenchem os mares.

(Solano Lucena)

Quem é sujeito

Melindrosa, você tem cinco minutos p'ra mudar a minha vida. E eu quero fazer dessa ordem meu ponto-de-partida.

Assim, me desligo do vício. Assim, nem condeno o passado e opto por um reinício, que, eu sei, está atrasado. Desisto das frases de efeito, deixo as poesias de lado. Nem quero mais saber quem é sujeito, só quero é viver de predicado.

Não jogo mais lixo no chão, nem limpo a calçada com mangueira. Nada de barulhos no salão. Nem passear com Bernardo sem coleira. Sem mais limpezas de faz-de-contas. Não deixo a luz acesa de dia. Tiro da tomada o microondas. Não deixo mais amontoar louça na pia.

Não me gripo nos finais-de-semana. Juro. Levo comigo cada uma das vitaminas. Sério. Dou água para todas as plantas. Sempre. Todo amor para nossa menina.

Deixa o ponteiro do relógio bater. Deixa o espelho do armário mostrar o casaco vermelho sobre o pechiché, é um sinal que a dona está a voltar.

Deixa o ponteiro do relógio bater. Deixa o espelho do armário mostrar. O casaco vermelho sobre o pechiché é um sinal que a dona está a voltar.

Melindrosa, você tem cinco minutos p'ra mudar a minha vida, porque agora eu sei dos amarelos que fazem o meu dia.

(Solano Lucena)

Sinônimo de Hélio Oiticica

Ao falar de Tropicalismo, não é possível esquecer das artes plásticas, da influência que essas tiveram para o trabalho visual do movimento. Hélio Oiticica é o principal nome, principal expoente da arte tropicalista e autor da obra que daria nome ao mesmo, Tropicália.

Tropicália é uma instalação. Já no período neoconcretista, o artista ousava atravessar essa barreira de objeto pictório e escultório, o público precisa participar da obra. Hélio é um dos nomes que, junto com Lygia Clark, Franz Weizzmann e Amilcar de Castro, fundou o primeiro movimento de artes plásticas unicamente brasileiro, o Neoconcretismo. Influenciados por nomes concretistas e do construtivismo russo, os neoconcretistas tinham como visão aproximar as galerias do povo brasileiro, embora o excesso de linguagem geométrica.

Tropicália é uma instalação. A obra de 1967 é um jardim com pássaros vivos e plantas. O clima é de um brasileiro nativo, no lado de fora da obra. O interior da instalação tem como objetivo a memória da favela. Oiticica parece querer ali mostrar “diferentes Brasis”. Uma televisão do lado de dentro, um cantar de pássaros do lado externo.

Oiticica ainda ficou conhecido por uma obra bastante peculiar chamada Parangolés, onde o público podia vestir a obra, dançar e ter a experiência da cor desta em seu corpo. Seria o auge da dessacralização da obra de arte e da aproximação entre arte e vida - a arte como extensão do homem -, assim como se interessava Lygia Clark ao criar os Bichos. Os trabalhos deixam de ser “obras” para serem propostas abertas ao público e por ele completadas.

Por fim, enquanto a Tropicália, movimento, explodia, Hélio se engajava realizando cenários de shows e capas de discos dos músicos. Participou como ator em um filme do incansável diretor Glauber Rocha. Um filme chamado "Câncer", onde a ferida da ditadura é cutucada a cada minuto pelo cineasta. E, ainda no momento tropicalista, realizou manifestações de cunho político, como a obra Homenagem à Cara de Cavalo, com a clássica frase, quase um sinônimo de Hélio Oiticica, "Seja Marginal, Seja Herói" (como se fosse simples assim ser sinônimo de Hélio Oiticica).

(Solano Lucena)

A Saga da Jardineira

O amor perfeito não existe. A amor-perfeito tinha se enganado. Ela tinha amado um lírio listradinho e postado no comments do fotolog dele, “eu não acredito em amor à primeira vista, mas foi”.


(Solano Lucena)