sexta-feira, junho 28, 2013
domingo, dezembro 30, 2007
Um homem só: eu te amo
Entra um homem com uma máscara em uma mão e uma cartola em outra. Deixa a máscara de um lado e veste a cartola.
- Essa é a história de um homem só. Nem um romance, nem uma tragédia, nem mesmo um diálogo. Essa é apenas a história de um homem só.
O homem tira a cartola, senta no fundo do palco e aguarda. E, após passar algum tempo, diz.
- Não vai dizer nada?
Corre até a máscara, veste e responde.
- Como?
- Não vais dizer nada? Está há horas aí parado me olhando e nem me deste uma justificativa para tal.
- Que tás dizendo? Eu não te entendo.
- É simples, você está me amando e não sabe.
- ...
- Você está me amando e não sabe como agir. É normal, é bem o teu tipinho, aquele tipo de pessoa que se massacra em nome de sentimentos, que, paradoxalmente, julgam-se "vagos e efêmeros". Sabemos que é mentira, teu ego não cabe em ti, darling.
- Hmmm... Por que “te amando”?
- Por que somos parecidos. Você se identificou comigo e pôs seus olhos aqui. (apontando para seu corpo) Não negue, você me olhava e até gostou que eu dissesse isso agora.
- Eu não entendo...
- Não precisa entender, bestinha, apenas aceite! Você é carente! Carente! Tadinho, tititi... (provocando)
- Eu... Eu apenas olhava para a cartola da tua mão.
- "Para a cartola da mão"... (ridicularizando)
- É. Eu não quero amar ninguém... Cansei, sabe? Como pode alguém cansar de dar amor?
- Cansei de dar amor... (inconformado)
- Pois é, não entendo, mas cansei de tentar entender também. Eu apenas olhava para a cartola de sua mão...
- Desculpa, então! (ainda inconformado)
- Por nada. (...) Enfim, agora, vista-a e me diz algo bom.
Essa é a história de um homem só.
(Solano Lucena)
- Essa é a história de um homem só. Nem um romance, nem uma tragédia, nem mesmo um diálogo. Essa é apenas a história de um homem só.
O homem tira a cartola, senta no fundo do palco e aguarda. E, após passar algum tempo, diz.
- Não vai dizer nada?
Corre até a máscara, veste e responde.
- Como?
- Não vais dizer nada? Está há horas aí parado me olhando e nem me deste uma justificativa para tal.
- Que tás dizendo? Eu não te entendo.
- É simples, você está me amando e não sabe.
- ...
- Você está me amando e não sabe como agir. É normal, é bem o teu tipinho, aquele tipo de pessoa que se massacra em nome de sentimentos, que, paradoxalmente, julgam-se "vagos e efêmeros". Sabemos que é mentira, teu ego não cabe em ti, darling.
- Hmmm... Por que “te amando”?
- Por que somos parecidos. Você se identificou comigo e pôs seus olhos aqui. (apontando para seu corpo) Não negue, você me olhava e até gostou que eu dissesse isso agora.
- Eu não entendo...
- Não precisa entender, bestinha, apenas aceite! Você é carente! Carente! Tadinho, tititi... (provocando)
- Eu... Eu apenas olhava para a cartola da tua mão.
- "Para a cartola da mão"... (ridicularizando)
- É. Eu não quero amar ninguém... Cansei, sabe? Como pode alguém cansar de dar amor?
- Cansei de dar amor... (inconformado)
- Pois é, não entendo, mas cansei de tentar entender também. Eu apenas olhava para a cartola de sua mão...
- Desculpa, então! (ainda inconformado)
- Por nada. (...) Enfim, agora, vista-a e me diz algo bom.
Essa é a história de um homem só.
(Solano Lucena)
Um homem só: meu bom Deus
O homem está de joelhos.
Meu bom Deus, estou aqui no trabalho pensando na pessoa que estou perigosamente apaixonado e em como essa pessoa não está pensando em mim aqui.
Meu bom Deus, estou agora no ônibus pensando na pessoa que estou drasticamente apaixonado, e que não deve estar pensando em mim agora também.
Meu bom Deus, estou aqui atrás da pessoa que estou tenebrosamente apaixonado e a vejo olhar para outra pessoa que não está tenebrosamente apaixonado por ninguém.
Meu bom Deus, estou aqui no precipício da minha desgraça e ouço alguém lá embaixo rindo.
Meu bom Deus, estou aqui rindo de alguém que chora de amor lá de cima do suicídio. Conheço aquela cara de choro, ele vai cair...
Meu bom Deus, estou aqui pensando em novas desculpas para não querer amar.
Meu bom Deus, vai dizer: eu falo de amor demais, né?
Meu bom Deus, se é verdade a tua existência, dê-me um sinal.
Meu bom Deus, se tiveres de saco cheio, mande um raio para estourar bem no meio da minha cabeça.
Catarra o chão.
Meu bom Deus, essa é a história de um homem só.
(Solano Lucena)
Meu bom Deus, estou aqui no trabalho pensando na pessoa que estou perigosamente apaixonado e em como essa pessoa não está pensando em mim aqui.
Meu bom Deus, estou agora no ônibus pensando na pessoa que estou drasticamente apaixonado, e que não deve estar pensando em mim agora também.
Meu bom Deus, estou aqui atrás da pessoa que estou tenebrosamente apaixonado e a vejo olhar para outra pessoa que não está tenebrosamente apaixonado por ninguém.
Meu bom Deus, estou aqui no precipício da minha desgraça e ouço alguém lá embaixo rindo.
Meu bom Deus, estou aqui rindo de alguém que chora de amor lá de cima do suicídio. Conheço aquela cara de choro, ele vai cair...
Meu bom Deus, estou aqui pensando em novas desculpas para não querer amar.
Meu bom Deus, vai dizer: eu falo de amor demais, né?
Meu bom Deus, se é verdade a tua existência, dê-me um sinal.
Meu bom Deus, se tiveres de saco cheio, mande um raio para estourar bem no meio da minha cabeça.
Catarra o chão.
Meu bom Deus, essa é a história de um homem só.
(Solano Lucena)
Um homem só: o xavequeiro
Veste a máscara.
- Poderíamos sair para dançar e beber alguma coisa, que tal?
Tira a máscara.
- Estou lhe dizendo que quero vê-la e que sou um cara legal, sabe? “Beber”, “que tal?”, um cara legal na medida ideal.
Veste a máscara.
- Ah... Tudo bem, podemos deixar para outro dia, então, um dia que tu puderes.
Tira a máscara.
- Estou lhe dizendo que ainda quero vê-la, que sou o mesmo cara legal, um cara legal na medida ideal, e que posso ser compreensivo também. Estou me fantasiando de "o cara legal certinho". O que talvez essa pessoa não queira e decretará isso na fala seguinte.
Veste a máscara.
- Mas não vá depois se arrepender, hein? Hehehe.
Tira a máscara.
- Estou dizendo que poderia chorar a noite inteira pela atenção recusada. Poderia, se não houvesse um homem maiúsculo aqui... Ahm, eu.
Homem veste a cartola.
Essa é a história de um homem só.
(Solano Lucena)
- Poderíamos sair para dançar e beber alguma coisa, que tal?
Tira a máscara.
- Estou lhe dizendo que quero vê-la e que sou um cara legal, sabe? “Beber”, “que tal?”, um cara legal na medida ideal.
Veste a máscara.
- Ah... Tudo bem, podemos deixar para outro dia, então, um dia que tu puderes.
Tira a máscara.
- Estou lhe dizendo que ainda quero vê-la, que sou o mesmo cara legal, um cara legal na medida ideal, e que posso ser compreensivo também. Estou me fantasiando de "o cara legal certinho". O que talvez essa pessoa não queira e decretará isso na fala seguinte.
Veste a máscara.
- Mas não vá depois se arrepender, hein? Hehehe.
Tira a máscara.
- Estou dizendo que poderia chorar a noite inteira pela atenção recusada. Poderia, se não houvesse um homem maiúsculo aqui... Ahm, eu.
Homem veste a cartola.
Essa é a história de um homem só.
(Solano Lucena)
Um homem só: Antônio, eu
Tira a cartola, segura na mão a máscara e dialoga com ela.
- Sabe, Antônio? Tu nunca foste bom o bastante para mim. Quando meu corpo estava no auge, só quiseste saber de tuas aventuras, me deixava em casa padecendo de amor. Sempre foste péssimo para mim. É disso que eu estava falando outro dia e não me ouviste. Tu fizeste meu mundo, Antônio, e eu o quero de volta.
Baixa a cabeça.
- Eu tenho medo, Antônio. Tenho medo dos teus defeitos que não suporto mais descobrir. Eu choro, Antônio. Eu choro toda noite como uma boba, uma boba que um dia faz o homem e noutro o vê escapar como areia dos dedos. Que quem te tenha te engula logo.
Põe no chão a máscara.
- Eu quero ser amada, Antônio. É muita humilhação para uma mulher bela como eu ser tua. Eu quero ser do mundo, Antônio. Do mundo. Onde tu sejas só um nome comum e eu possa ser rainha de um qualquer. Imperatriz das esquinas. Amante dos empregados... Eu cansei, homem.
Pisa na máscara que se desfaz.
- E eu moro no teu coração agora, Antônio. Junto de tudo aquilo que você não deveria perder.
(Solano Lucena)
- Sabe, Antônio? Tu nunca foste bom o bastante para mim. Quando meu corpo estava no auge, só quiseste saber de tuas aventuras, me deixava em casa padecendo de amor. Sempre foste péssimo para mim. É disso que eu estava falando outro dia e não me ouviste. Tu fizeste meu mundo, Antônio, e eu o quero de volta.
Baixa a cabeça.
- Eu tenho medo, Antônio. Tenho medo dos teus defeitos que não suporto mais descobrir. Eu choro, Antônio. Eu choro toda noite como uma boba, uma boba que um dia faz o homem e noutro o vê escapar como areia dos dedos. Que quem te tenha te engula logo.
Põe no chão a máscara.
- Eu quero ser amada, Antônio. É muita humilhação para uma mulher bela como eu ser tua. Eu quero ser do mundo, Antônio. Do mundo. Onde tu sejas só um nome comum e eu possa ser rainha de um qualquer. Imperatriz das esquinas. Amante dos empregados... Eu cansei, homem.
Pisa na máscara que se desfaz.
- E eu moro no teu coração agora, Antônio. Junto de tudo aquilo que você não deveria perder.
(Solano Lucena)
Continua
De madrugada, ela acordou, como costumava acordar quase toda noite, e viu, de longe, uma luz. Levantou-se da cama e encontrou uma luz ligada no corredor. Chegou mais perto, estranho deixarem luzes ligadas no meio da noite.
Nenhuma explicação aparente. Apagou a luz. Voltou para o quarto. Mas a consciência voltou a bater: será que as pessoas da casa saíram e esqueceram ligada a luz do corredor? Voltou para o corredor. Acendeu a luz. O quarto do seu irmão estava com a porta entreaberta. Olhou com olhos compridos. Ele estava ali dormindo. Pronto, voltaria a dormir. Apagou a luz do corredor e... A luz do quarto de seus pais estava ligada.
A porta estava fechada, como sempre ficava, mas a luz estava ligada. Acendeu novamente a luz do corredor e foi até a porta dos pais. Lentamente, com suas pantufas de Frangolino, não faria barulho. Pôs sua cabeça ao lado da porta, delicadamente.
Era um silêncio atordoante.
Atordoante para ela, ao menos. Resolveu bater na porta com mãos de veludo. Três toques e ninguém havia respondido. Resolveu entrar. Será? Da última vez que fez isso, o pai não gostou, mesmo tendo motivos.
Foram quase dez minutos pensando se era possível entrar ou não. Já havia hesitado, voltara alguns passos, mas a curiosidade a motivava a continuar. Resolveu entrar.
As roupas de cama estavam jogadas na cama. Não havia ninguém ali. Resolveu procurar pela casa... Não. Digo, sim, resolveu, mas desistiu logo. Acordaria seu irmão, ele era mais corajoso e mais velho. Adentrou o quarto do mano e, com o mínimo de sensibilidade - coisa de irmã caçula, ligou a luz. Seu irmão não estava lá. O que havia ali eram os lençóis sobre a cama, formando o corpo de uma pessoa, como se fosse alguém dormindo.
Ela estava sozinha naquela casa como nunca esteve antes. E seus pais e irmão não haviam lhe dado qualquer explicação.
Continua.
(Solano Lucena)
Nenhuma explicação aparente. Apagou a luz. Voltou para o quarto. Mas a consciência voltou a bater: será que as pessoas da casa saíram e esqueceram ligada a luz do corredor? Voltou para o corredor. Acendeu a luz. O quarto do seu irmão estava com a porta entreaberta. Olhou com olhos compridos. Ele estava ali dormindo. Pronto, voltaria a dormir. Apagou a luz do corredor e... A luz do quarto de seus pais estava ligada.
A porta estava fechada, como sempre ficava, mas a luz estava ligada. Acendeu novamente a luz do corredor e foi até a porta dos pais. Lentamente, com suas pantufas de Frangolino, não faria barulho. Pôs sua cabeça ao lado da porta, delicadamente.
Era um silêncio atordoante.
Atordoante para ela, ao menos. Resolveu bater na porta com mãos de veludo. Três toques e ninguém havia respondido. Resolveu entrar. Será? Da última vez que fez isso, o pai não gostou, mesmo tendo motivos.
Foram quase dez minutos pensando se era possível entrar ou não. Já havia hesitado, voltara alguns passos, mas a curiosidade a motivava a continuar. Resolveu entrar.
As roupas de cama estavam jogadas na cama. Não havia ninguém ali. Resolveu procurar pela casa... Não. Digo, sim, resolveu, mas desistiu logo. Acordaria seu irmão, ele era mais corajoso e mais velho. Adentrou o quarto do mano e, com o mínimo de sensibilidade - coisa de irmã caçula, ligou a luz. Seu irmão não estava lá. O que havia ali eram os lençóis sobre a cama, formando o corpo de uma pessoa, como se fosse alguém dormindo.
Ela estava sozinha naquela casa como nunca esteve antes. E seus pais e irmão não haviam lhe dado qualquer explicação.
Continua.
(Solano Lucena)
Adão
Pesa a idade e um homem chora sua paz, é a imagem que o rapaz leva do aprendiz. E um mestre vê seu chão em cores pardas. Do alto de um brasão, acena para o seu lugar, para as primaveras que deixa p'ra trás, para os seus planos que se perderam na idade em que está. O andar dos anos. Faz um minuto que era um rapaz (sonhos e enganos), mas foi quando pensava ser incapaz, que a pobreza desse seu olhar era certeira.
(Solano Lucena)
(Solano Lucena)
Bruxas nos fazem mal
...e a bruxa estava decidida, queria fazer sopa dos dois. Mas Maria foi mais astuta.
Pai, o que é astuta?
Esperta. Maria foi mais esperta... E disse que aquele caldeirão era muito pequeno, que não caberia nem ela sozinha lá dentro. Então, a bruxa disse "- Menina boba! Há espaço suficiente, sim, até eu caberia aí dentro!". E Maria falou que duvidava, que era im-pos-sí-vel. A bruxa se aproximou e colocou a cabeça bem perto do caldeirão, que queimava forte. Maria, então, aproveitou que a bruxa estava distraída e deu-lhe um empurrão que a fez cair lá dentro. A bruxa queimava no seu próprio caldeirão. E Mariazinha não pensou duas vezes!, foi direto libertar João. Antes de irem embora, os dois tiveram a idéia de pegar todo o tesouro que a bruxa guardava. Eles estavam muito felizes porque conseguiram escapar. Mas, ao chegarem em casa, encontraram seus pais chorando. Chorando não só por terem perdido os filhos, mas pela falta de dinheiro, não tinham dinheiro nem para jantar. Joãozinho e Maria, então, mostraram toda a fortuna que traziam nos bolsos: agora não haveria mais preocupação com dinheiro ou comida e, assim, eles foram felizes para sempre. Fim.
Hmmm... Eles roubaram da bruxa?
Roubaram... Mas roubar de bruxa não é errado. Bruxas nos fazem mal. Boa noite.
(Solano Lucena)
Pai, o que é astuta?
Esperta. Maria foi mais esperta... E disse que aquele caldeirão era muito pequeno, que não caberia nem ela sozinha lá dentro. Então, a bruxa disse "- Menina boba! Há espaço suficiente, sim, até eu caberia aí dentro!". E Maria falou que duvidava, que era im-pos-sí-vel. A bruxa se aproximou e colocou a cabeça bem perto do caldeirão, que queimava forte. Maria, então, aproveitou que a bruxa estava distraída e deu-lhe um empurrão que a fez cair lá dentro. A bruxa queimava no seu próprio caldeirão. E Mariazinha não pensou duas vezes!, foi direto libertar João. Antes de irem embora, os dois tiveram a idéia de pegar todo o tesouro que a bruxa guardava. Eles estavam muito felizes porque conseguiram escapar. Mas, ao chegarem em casa, encontraram seus pais chorando. Chorando não só por terem perdido os filhos, mas pela falta de dinheiro, não tinham dinheiro nem para jantar. Joãozinho e Maria, então, mostraram toda a fortuna que traziam nos bolsos: agora não haveria mais preocupação com dinheiro ou comida e, assim, eles foram felizes para sempre. Fim.
Hmmm... Eles roubaram da bruxa?
Roubaram... Mas roubar de bruxa não é errado. Bruxas nos fazem mal. Boa noite.
(Solano Lucena)
segunda-feira, dezembro 03, 2007
Tudo Agora Silêncio
Minha Dorita, como foi na escola hoje?
Que escola, mãe? Que escola? Que tu quer saber da escola?, deixa a escola lá!
Ah, não fale assim, filha. A escola é o alicerce do futuro de um país e de cada uma das pessoas que vivem nele. A educação é uma das coisas mais importantes que uma sociedade pode ter, pois é com cidadãos capazes que poderemos mudar o lugar onde vivemos...
Ai, mãe, como tu é caxias, idiota. Não vê que ninguém tá concordando com o que tu tá falando? Escola é só a escola, educação se tem é em casa. E quem tem, tem. Quem não tem, se fode.
Nããão, filha, não é assim, sem a escola, uma sociedade se ala...
Mãe?
Sim?
Vai tomar no teu cu.
(Solano Lucena)
Que escola, mãe? Que escola? Que tu quer saber da escola?, deixa a escola lá!
Ah, não fale assim, filha. A escola é o alicerce do futuro de um país e de cada uma das pessoas que vivem nele. A educação é uma das coisas mais importantes que uma sociedade pode ter, pois é com cidadãos capazes que poderemos mudar o lugar onde vivemos...
Ai, mãe, como tu é caxias, idiota. Não vê que ninguém tá concordando com o que tu tá falando? Escola é só a escola, educação se tem é em casa. E quem tem, tem. Quem não tem, se fode.
Nããão, filha, não é assim, sem a escola, uma sociedade se ala...
Mãe?
Sim?
Vai tomar no teu cu.
(Solano Lucena)
Exercício 1: Apresentação Pessoal
Quem é Miltinho?
Chamo-me Miltinho. Milton dos Santos. Há também um sobrenome paterno no final de meu nome, mas prefiro ser chamado apenas de Miltinho. Milton dos Santos.
Sou estudante de Engenharia Elétrica, curso o sexto semestre e, diferentemente de meus colegas de curso, sou completamente apaixonado por escrever. Eis o motivo de ter escolhido uma cadeira de primeiro período do curso de licenciatura em Letras, a paixão.
Paixão antiga. Mil novecentos e noventa e oito, oitava série. Eu tinha tanta vontade de ser Augusto dos Anjos, que uma vez, em uma prova, consegui a proeza de confundir meu nome com o endereço de minha casa - moro na Rua Augusto Ott, em Porto Alegre.
Sou responsável por um endereço eletrônico chamado O Projetista Intrumental (www.oprojetistainstrumental.blogspot.com). Nele, haverá textos autorais, que semanalmente terei o compromisso de atualizar. Escrevo desde o ano de 2004 na Internet e não escondo minha pretensão de, um dia, transformar esses contos, microcontos, crônicas e poesias virtuais em páginas impressas.
Hoje, falando no âmbito profissional, tenho dois sonhos: um livro e um filme. Mas, sobre esse assunto, é melhor deixar para uma outra oportunidade.
(Solano Lucena)
Chamo-me Miltinho. Milton dos Santos. Há também um sobrenome paterno no final de meu nome, mas prefiro ser chamado apenas de Miltinho. Milton dos Santos.
Sou estudante de Engenharia Elétrica, curso o sexto semestre e, diferentemente de meus colegas de curso, sou completamente apaixonado por escrever. Eis o motivo de ter escolhido uma cadeira de primeiro período do curso de licenciatura em Letras, a paixão.
Paixão antiga. Mil novecentos e noventa e oito, oitava série. Eu tinha tanta vontade de ser Augusto dos Anjos, que uma vez, em uma prova, consegui a proeza de confundir meu nome com o endereço de minha casa - moro na Rua Augusto Ott, em Porto Alegre.
Sou responsável por um endereço eletrônico chamado O Projetista Intrumental (www.oprojetistainstrumental.blogspot.com). Nele, haverá textos autorais, que semanalmente terei o compromisso de atualizar. Escrevo desde o ano de 2004 na Internet e não escondo minha pretensão de, um dia, transformar esses contos, microcontos, crônicas e poesias virtuais em páginas impressas.
Hoje, falando no âmbito profissional, tenho dois sonhos: um livro e um filme. Mas, sobre esse assunto, é melhor deixar para uma outra oportunidade.
(Solano Lucena)
Cena 10
Interna, quarto, noite.
Homem senta-se na cama. Vê perto do espelho a foto deles na festa de casamento. Câmera foca na imagem e apresenta mais duas imagens da mesma festa. Câmera foca a aliança na mão do homem, que ainda segurava o cigarro.
Câmera mostra uma aliança no fundo de uma privada.
Homem olha para o travesseiro. Câmera acompanha esse olhar, sai do rosto do homem até o travesseiro e volta para o rosto.
Homem desconcentra o olhar no travesseiro e se vê no espelho. Foca-se no espelho. Arregala os olhos com as mãos (movimento que oculistas fazem para examinar o paciente, o resultado na face de alguém é semelhante à máscara do Pânico). Repara que, atrás dele, o espelho mostrava roupas da mulher jogadas na cadeira.
Homem contorna o corpo da mulher em mãos vazias. Tudo devagar e, de novo, sentado na cama.
Câmera foca para o chão. Há uma sandália. O foco é a sandália.
Acontece um flash de uma mulher calçando a sandália sobre aquela mesma cama. Calça devagar, para o deleite do texto.
O homem pega uma sandália. Olha a sandália sob várias perspectivas, como se o centro do mundo naquele momento fosse aquela sandália. Alisa a sandália. Bate no solado. Sente o cheiro. Cheira à saudade.
Olha para seus pés. Sapatos. Grosseiros sapatos, pretos, bem engraxados, com cadarços, estilo social. Desata os nós dos cadarços. Tira com as duas mãos cada um. Elegantes meias negras em cada pé. Tira as meias. Olha para a sandália e segura as duas com uma mão só. Calça as sandálias. Câmera foca em um homem com sandálias e calças. Sua mão puxa as calças para aparecer somente as sandálias, os pés e as pernas cabeludas.
Homem caminha estranho com as sandálias. Vai até o espelho se ver.
Joga no chão as roupas que estavam em cima da cadeira. Procurava alguma roupa.
- No armário...
Abre o armário e encontra vestidos diversos. Pega vestido por vestido e os joga no chão, ele ainda procurava algo.
Até que o homem acha. Era o vestido que ela usava na fotografia da primeira cena. Joga na cama o vestido. Veste-o. O homem se olha no espelho e não demonstra expressão alguma.
Câmera mostra uma busca por armários diversos, mas sempre com um senso destrutivo, abrir uma gaveta, tirar o que tem dentro e jogar no chão ou longe. Até que o homem encontra os vidros de maquiagem no pechiché. Há uma estranha alegria em ver aquilo.
Olhando para a câmera, homem coloca o batom. Quando acaba, dá um sorriso.
(Solano Lucena)
Homem senta-se na cama. Vê perto do espelho a foto deles na festa de casamento. Câmera foca na imagem e apresenta mais duas imagens da mesma festa. Câmera foca a aliança na mão do homem, que ainda segurava o cigarro.
Câmera mostra uma aliança no fundo de uma privada.
Homem olha para o travesseiro. Câmera acompanha esse olhar, sai do rosto do homem até o travesseiro e volta para o rosto.
Homem desconcentra o olhar no travesseiro e se vê no espelho. Foca-se no espelho. Arregala os olhos com as mãos (movimento que oculistas fazem para examinar o paciente, o resultado na face de alguém é semelhante à máscara do Pânico). Repara que, atrás dele, o espelho mostrava roupas da mulher jogadas na cadeira.
Homem contorna o corpo da mulher em mãos vazias. Tudo devagar e, de novo, sentado na cama.
Câmera foca para o chão. Há uma sandália. O foco é a sandália.
Acontece um flash de uma mulher calçando a sandália sobre aquela mesma cama. Calça devagar, para o deleite do texto.
O homem pega uma sandália. Olha a sandália sob várias perspectivas, como se o centro do mundo naquele momento fosse aquela sandália. Alisa a sandália. Bate no solado. Sente o cheiro. Cheira à saudade.
Olha para seus pés. Sapatos. Grosseiros sapatos, pretos, bem engraxados, com cadarços, estilo social. Desata os nós dos cadarços. Tira com as duas mãos cada um. Elegantes meias negras em cada pé. Tira as meias. Olha para a sandália e segura as duas com uma mão só. Calça as sandálias. Câmera foca em um homem com sandálias e calças. Sua mão puxa as calças para aparecer somente as sandálias, os pés e as pernas cabeludas.
Homem caminha estranho com as sandálias. Vai até o espelho se ver.
Joga no chão as roupas que estavam em cima da cadeira. Procurava alguma roupa.
- No armário...
Abre o armário e encontra vestidos diversos. Pega vestido por vestido e os joga no chão, ele ainda procurava algo.
Até que o homem acha. Era o vestido que ela usava na fotografia da primeira cena. Joga na cama o vestido. Veste-o. O homem se olha no espelho e não demonstra expressão alguma.
Câmera mostra uma busca por armários diversos, mas sempre com um senso destrutivo, abrir uma gaveta, tirar o que tem dentro e jogar no chão ou longe. Até que o homem encontra os vidros de maquiagem no pechiché. Há uma estranha alegria em ver aquilo.
Olhando para a câmera, homem coloca o batom. Quando acaba, dá um sorriso.
(Solano Lucena)
O que você tem a dizer sobre Renato e sua guitarra?
Conheci o Renato há uns cinco anos, quando ainda tocávamos com o Gerson. Eu era muito novo, estava recém começando no trompete e foi ele que me deu força p'ra continuar. Nunca vou esquecer dos aprendizados que tive com esse senhor músico. Hoje, tomamos caminhos diferentes, mas tenho certeza que as lembranças daquele tempo jamais serão esquecidas.
Não tenho palavras para dizer da minha admiração por ti, meu camarada. Tu brilha porque tem estrela.
Falou.
(Solano Lucena)
Não tenho palavras para dizer da minha admiração por ti, meu camarada. Tu brilha porque tem estrela.
Falou.
(Solano Lucena)
sexta-feira, agosto 24, 2007
Simples
"Nem sol nem mar nem verão, final de tarde em Ponta Negra tem-me sido pura saudade tua". Estava bom? Era simples.
As coisas simples têm mais chances de se tornarem belas. É um aprendizado. A simplicidade é uma qualidade inconsciente. Todos nós já sabemos de fábrica o que é belo. A surpresa traz à rima uma estranheza.
Mostrou para o homem dos Correios. Ele leu, releu. Leu pela última vez. P'ra namorada? Poderia ser até p'rum amigo.
Ora. Nunca mandaria a um amigo um cartão assim, sela e carimba logo, que até a sogra vai gostar.
(Solano Lucena)
As coisas simples têm mais chances de se tornarem belas. É um aprendizado. A simplicidade é uma qualidade inconsciente. Todos nós já sabemos de fábrica o que é belo. A surpresa traz à rima uma estranheza.
Mostrou para o homem dos Correios. Ele leu, releu. Leu pela última vez. P'ra namorada? Poderia ser até p'rum amigo.
Ora. Nunca mandaria a um amigo um cartão assim, sela e carimba logo, que até a sogra vai gostar.
(Solano Lucena)
Dez Dedos de Desdobramentos
Sobre a mesa, um guardanapo de espessura mediana. Deixado, assim, dobrado, numa espessura mediana. Uma amizade, um pedaço de papel, uma página inteira. Palavras de ordem, um ditado inconsciente.
No interior, há um interesse escrito em letras garrafais, onde a praxe do bilhete se escreve em letras garrafais. Um olhar, um salão, um outro olhar. Uma dúvida que sabiamente cuidará por permanecer.
No texto, um endereço dá vazão ao imaginar: o começo de um começo, a razão de imaginar. Um filme, um cinema, um cinema mudo. Um pouco de graça naquele dia sem cor.
Esse é o filme que eu havia te dito. Cuida a luz que é p'ra não desfocar. A primeira tomada não é bem o início. No cinema falado, ainda é preciso letrar.
Respostas perguntam. No final, ele morre. O prazer digital não se pode comprar. Crédito ao nome, pois assim ele corre, de nome em nome, o renome se dá.
A inovação da imagem é um filme de amor físico sobre um cobertor p'ra todo mundo ver. E as cores de Almodóvar são as cinzas do escritor, que morreu na transição: arte-vida qualquer.
(Solano Lucena)
No interior, há um interesse escrito em letras garrafais, onde a praxe do bilhete se escreve em letras garrafais. Um olhar, um salão, um outro olhar. Uma dúvida que sabiamente cuidará por permanecer.
No texto, um endereço dá vazão ao imaginar: o começo de um começo, a razão de imaginar. Um filme, um cinema, um cinema mudo. Um pouco de graça naquele dia sem cor.
Esse é o filme que eu havia te dito. Cuida a luz que é p'ra não desfocar. A primeira tomada não é bem o início. No cinema falado, ainda é preciso letrar.
Respostas perguntam. No final, ele morre. O prazer digital não se pode comprar. Crédito ao nome, pois assim ele corre, de nome em nome, o renome se dá.
A inovação da imagem é um filme de amor físico sobre um cobertor p'ra todo mundo ver. E as cores de Almodóvar são as cinzas do escritor, que morreu na transição: arte-vida qualquer.
(Solano Lucena)